Vale a pena cuidar do seu jardim...

Não, o meu post hoje não é sobre jardinagem. Apesar que foi um momento enquanto eu cuidava do meu jardim que me veio a inspiração para escrever esta mensagem. Porque o meu jardim tem me ensinado pequenas e preciosas lições sobre a vida.

Quando mudei-me para a minha atual casa não havia flores bonitas e bem cuidadas nos canteiros, apenas umas flores amarelas emaranhadas que mais pareciam ervas daninhas. Mas não eram. Elas só precisavam ser podadas e regadas para crescer e florescer ainda mais.
É muito fácil reclamar que a  vida está vazia, sem beleza e sem alegria. Mas assim como flores não nascem se não forem plantadas, não veremos resultados positivos na nossa vida se não tomarmos em primeiro lugar a decisão de cuidar da nossa vida e fazer o que for preciso para alcançarmos as nossas metas. Assim como aquelas pequenas flores que pareciam apenas ervas daninhas, o que pode estar faltando não somente na vida, como nos relacionamentos é apenas a sua atenção.

Para plantar novas flores foi preciso pesquisar o melhor tipo que conseguisse sobreviver a temperatura e luz proporcionadas no meu jardim. Foi necessário preparar o canteiro com nova terra, fertilizante e água, muita água...
As primeiras coisas, primeiro. Planejamento é bom e necessário para se conseguir alcançar um objetivo. Sonhar é muito bom, mas para sair da fase do sonho e fazê-lo tornar realidade é preciso um planejamento e acima de tudo ação. Um passo de cada vez, uma mudança por vez e quando menos se percebe, mudamos uma situação, melhoramos um relacionamento, conquistamos algo muito desejado. É melhor andar devagar e na direção certa do que sair correndo sem rumo. E claro, se não for possível fazer estas pequenas mudanças sozinho, procure ajuda de quem sabe, de quem já passou por algo parecido.

Por mais que você cuide, algumas flores vão morrer nas suas mãos e você vai precisar tomar uma atitude.
Gostaria de dizer que ser cuidadoso, amoroso, seguir um plano é a receita para o sucesso, mas não é. Há circunstâncias que fogem do nosso poder e que podem "matar" aquilo que estávamos cultivando. Lembro de ter adiado por dias arrancar uma flor que eu gostava muito porque ficou doente com mofo e morreu. Tinha a esperança de que iria melhorar e redobrei cuidados, pesquisei em sites, até mesmo podei a planta com esperança de que sobrevivesse, mas com o passar do tempo, percebi que não somente a planta morreu como o mofo contaminou o solo e tive que retirar toda terra do canteiro.
Às vezes adiamos demais a decisão de tirar da nossa vida hábitos e pessoas nocivas, com a esperança de que as coisas vão melhorar e acabamos nos machucando muito mais com o passar do tempo. Uma decisão radical de arrancar o que faz mal da nossa vida é difícil, mas muitas vezes necessário para que possamos crescer e sermos felizes novamente. E depois que finalmente tomamos a decisão de fazê-lo, nos perguntamos o porque de demorarmos tanto para tomar uma decisão vital que teria nos poupado de muita dor e sofrimento se não fosse postergada.

Se a primeira tentativa não deu certo, não desanime. Aprenda com os erros e tente novamente!
Fiquei arrasada quando as minhas flores favoritas morreram. Mas não desisti de ter o meu jardim florido. Fiquei um pouco triste, mas ao invés de ficar desanimada, a determinação cresceu para fazer o meu objetivo se concretizar. Às vezes ficamos tão decepcionados com os obstáculos que a vida nos coloca que nos esquecemos de arregaçar as mangas e trabalhar para que o nosso objetivo se concretize. Mesmo que dê muito trabalho. Mesmo que as pessoas digam que você não é capaz. Mesmo que hajam muitas frustrações.

Ter um jardim bonito requer trabalho, dedicação. É um trabalho muitas vezes solitário e que não tem resultados instantâneos. Paciência é a chave para o sucesso. 
Depois do episódio das plantas mortas, decidi plantar tulipas no meu jardim. Veja bem, eu amo tulipas mas não sabia absolutamente nada sobre como plantar ou cuidar delas. Depois de muito pesquisar, fiz toda a preparação do solo, adubo e as plantei no final de novembro. Até esta semana parecia que nada estava acontecendo. Mesmo assim regava, ia olhar, limpava o canteiro até que um dia eu cheguei perto dos canteiros e vi pequenos brotos saindo da terra. Nada se compara a felicidade de ver os primeiros, mesmo que sejam pequenos, resultados do trabalho e dedicação. Algumas pessoas não vai nem entender o motivo da sua alegria, mas não deixe de celebrar cada pequena conquista em sua vida.
Pode parecer que o inverno é interminável e o frio insuportável, mas ele vai passar e a primavera vai chegar e com ela os frutos do seu trabalho e dedicação.

Portanto, ao invés de sentar e reclamar da aridez da sua vida, decida trabalhar silenciosamente no seu jardim. Tenho certeza de que você colherá bons frutos, mesmo que demore um pouco para parecer resultado. E aqueles que não acreditavam ou riam de você, ficarão surpresos com o resultado do seu árduo trabalho. E as flores que você tanto desejava, irão florir na sua vida e fazer mais bela não somente a sua vida, mas a vida de todos aqueles ao seu redor.





"Fala demais por não ter nada a dizer..."

Internet é um espaço público que nos dá uma certa segurança e conforto para dizermos o que quisermos e bem entendermos. E o que não falta por aí são blogs e sites com informações ótimas sobre tudo e mais um pouco, idéias inteligentes que nos fazem pensar sobre a nossa vida, nossas certezas, nossas crenças. Tem  coisas engraçadas que nos fazem rir e histórias emocionantes que nos fazem chorar, como se estivéssemos ouvindo um desabafo de um amigo querido.
Eu gosto muito de blogs, através dele durante a minha vida de expatriada conheci pessoas maravilhosas e aprendi tanto com a experiência alheia... é por isto que continuo mantendo o blog e leio com frequência os blogs da lista ao lado.
Porém, há sempre aqueles que estão por aí para usar o blog como uma arma. Para destilar fogo e veneno, ser mal-educado e criticar os outros, com a desculpa de que o blog é meu e eu falo o que quero. É verdade, você tem razão.
Mas a minha mãe e principalmente a vida me ensinou que quando não temos algo de bom para compartilhar, a melhor coisa é ficar de boca fechada. Porque não entra mosquito e não saí da boca palavras azedas, que machucam, cheias de negativismo que só trazem coisas ruins tanto para quem fala como para quem lê/escuta.
É assim que estou tentando conduzir a minha vida virtual e principalmente a minha vida real. Porque eu quero espalhar coisas boas para as pessoas já que por aí já tem tanta gente espalhando coisas ruins.
E como diria a minha amiga Gisley... não gostou do que leu por aí, vai no cantinho superior direito da tela e clica no X.

Você pode tirar uma paulistana de São Paulo, mas...

... jamais irá tirar a paulistana de dentro de mim!

Enquanto esperava o meu marido terminar uma reunião de trabalho, estava usando o meu laptop na Starbucks para matar tempo. Bendita seja a wi-fi gratuita!
Sentei, tomei meu chá e estava tudo bem até que apareceu a vontade de ir ao banheiro. E agora José?
Eu como boa brasileira, não pensaria duas vezes no que fazer. Colocar tudo dentro da mochila e levar comigo no banheiro, mas esta opção soa tão estranha aqui... afinal aqui é primeiro mundo né? Já vi bolsas, laptos e até mesmo celulares abandonados em mesas enquanto o dono está em outro lugar e ninguém parece se importar. O estranho mesmo é empacotar tudo, levar com você e depois retornar a mesma mesa. O pior ainda é quando o lugar está cheio e se você for, vai acabar ficando sem lugar pra sentar...
E enquanto eu estava calculando quanto tempo iria demorar pra ir e voltar e se daria muito na cara deixar as minhas coisas sozinhas na mesa, dei um tapa na testa e falei pra mim mesma: "Que dilema mais bobo este, pega as suas coisas e vai, afinal, é algo caro e não vou dar bobeira de jeito nenhum, achem o que quiser (como se alguém fosse reparar...)".  E a paulistana dentro de mim bateu palmas e disse: "É isto aí mina!"

A minha jornada para chamar os EUA lar...

Este post vai ser longo, mas vejo a necessidade de compartilhar a minha jornada porque durante os anos em que pesquisei o que fazer, pouca foi a informação que obtive e as que obtive foram confusas e contraditórias.

Cheguei nos Estados Unidos em fevereiro de 2007 como intercambista. A forma mais barata e segura que tinha para realizar o meu desejo de conhecer o mundo, falar "inglês de verdade" e aprender novas culturas foi através do programa Au Pair. Hoje em dia virou "sonho" de muita garota no Brasil ser au pair, quando eu vim pra cá ainda era um pouco novidade o programa. Pesquisei muito, conheci pessoas maravilhosas que até hoje são minhas amigas, recebi apoio de alguns e critícas de muitos, até mesmo de família. O meu sonho era ir mesmo pro Canadá, aquela terra me atraía de uma forma que não tinha como explicar, mas as condições para obter o visto estavam fora de cogitação. Inglaterra então nem pensar, os olhos da cara! Então tá né, bora pros EUA!

Meu primeiro ano como au pair foi uma maravilha. Morava com uma família americana no subúrbio de New Jersey, com uma distância boa para chegar até NYC com facilidade. E eu aproveitei muito aquele ano com uma querida companheira de viagem também brasileira. Cheguei com uma sede de aprender mais sobre o povo americano pra tentar entender o porque deles serem como são. Até mesmo regras de beisebol o meu host dad me ensinou (apesar de ter esquecido!). Este primeiro ano eu viajei o máximo que pude pela East Coast. E nas minha férias eu tive que tomar a minha primeira decisão difícil. Ao invés de ir ao Brasil, decidi ir para a Jamaica. Sem saber, joguei a minha última oportunidade de ver minha família fora pelos próximos 6 anos. But anyway... Live is short, so I needed to enjoy right?

Em setembro de 2007 eu decidi que iria extender o programa por mais 1 ano. Pensei em ir para o Brasil, mas se viajasse não teria dinheiro para fazer a renovação do programa porque teria que custear visto, passagem aérea e também pagar as taxas do programa. Foi difícil, mas eu tive que pensar em mim primeiro. Acho que pela primeira vez na minha vida eu pensei em mim. Assinei os papéis resolvi ficar mais um ano nos EUA, visando cumprir os requerimentos para no futuro ir para o Canadá como caregiver. E aí a bomba veio.

Quando fui conversar com a minha família americana, eles me disseram que estavam saindo do programa. Como assim?! Já estava fazendo planos de passar mais um ano com eles e agora eu teria que mudar de família! Tive muito medo e até pensei em desistir, porque já tinha escutado horrores de famílias que maltratam e exploram au pairs (o que infelizmente, continua sendo verdade!). Orei, pedi direção a Deus e segui firme no propósito de passar mais um ano por aqui. Se não dessse certo, voltaria para casa com a sensação de que pelo menos eu tentei.

Como au pair "veterana" eu tinha a opção de escolher pra qual região gostaria de ir. E aqui vale dizer que eu sou a pessoa mais medrosa do mundo em relação a desastres naturais. E vamos ser sinceras que os EUA é um país em que você meio que precisa escolher qual desastre natural você quer lidar... enchente, queimadas, tornados, terremotos... ai terremotos! Já que estava neste impassse, resolvi chutar o balde e falei pra agência que queria ir pra West Coast, de preferência para Califórnia. Ah tá... só você e mais 131343545454666 de meninas querem ir pra Califórnia. E aí a caça a famílias começou.

Entrei em contato com algumas até ter decido por uma família em San Diego, apenas com um bebezinho para cuidar. Estava já empolgada com a família, vendo fotos e empolgada com a experiência de viver numa família multicultural, já que a mãe era indiana e o pai americano. Com a cabeça já em San Diego, recebi a ligação que mudou a minha vida. Uma mãe solteira na região de Sãn Francisco gostou muito do meu perfil e queria uma entrevista comigo. Ali eu quebrei todas as regras da agência de au pair conversando com uma outra família quando já tinha escolhido outra. Mas morar em San Francisco me agradou porque é uma região menos quente que San Diego (é, eu não sou muito chegada ao calor).

Papo vai, papo vem e decidi ir morar com a família de San Francisco. Deu aperto no coração, mas novamente estava fazendo algo que acreditava ser melhor pra mim. Mal sabia eu que tinha tomado uma das decisões mais importantes da minha vida! Através de uma amiga da amiga de uma amiga (bem assim mesmo!), encontrei o meu marido. Na verdade a amiga da minha amiga  estava querendo que os dois ficassem juntos, mas a minha amiga não mostrou o menor interesse por ele por causa de seu físico. Eu fiquei encantada com a inteligência, educação e gentileza dele. Até mesmo na forma em que falava com o garçom. Engraçado que na minha cabeça, eu pensava "se um dia eu casar, quero que meu marido seja como ele!". E nós ficamos amigos, e de amigos e muita insistência minha (um dia conto esta história), nós começamos a namorar.

A vida pra mim parecia realmente um conto de fadas. Eu morava com a madrasta má que me explorava e tinha que cuidar dos "irmãos" menores, mas no final de semana eu ia encontrar o meu príncipe encantado :P. Brincadeiras a parte, o ano de 2008 foi um dos mais difícies da minha vida. Imagina morar na casa de uma pessoa que você sabe que não gosta de você, te critica o tempo inteiro, espera que você faça absolutamente tudo na casa dela e ainda diga muito obrigada por me deixar ser sua escrava! Esta era a minha vida. E por que você não foi embora? Por causa do visto né?! O namoro estava engrenando e eu não queria correr o risco de mudar de família e morar no meio de Iowa somewhere e ela me suportava porque eu cuidava muito bem das crianças.

E foi aí que decidi mudar o meu visto de intercambista para estudante. E aí tinha a opção: eu poderia trocar o meu status de não-imigrante de intercambista para estudante dentro dos EUA, com grande burocracia, mas de uma forma relativamente segura. O ponto negativo é que só no sistema de imigração que o meu status mudou, eu não teria nenhum visto no meu passaporte.  Mas o que isto significa? Significa que se eu saísse dos EUA, teria que obrigatoriamente retonar ao Brasil, passar pela burocracia do consulado americano para obter o visto de estudante caso eu quisesse retornar, sem garantia que seria concedido. Ouuu, poderia terminar o meu programa au pair, retornar ao Brasil com a passagem paga pela agência e tirar o visto de estudante no Brasil. Pooooooorém, o ponto negativo é que eu teria que mostrar os tais de vínculos com o Brasil para eles me darem o visto de estudante. Agora me diz como é que eu provo que tenho vínculos no Brasil se eu não tinha absolutamente nada no Brasil!?

Na época eu já estava namorando há alguns meses e tinha certeza de que iria casar com o meu namorado. Coisa de garota apaixonada, mas eu precisava tentar. Já tinha tido um namoro a distância e não foi bem sucedido. Apesar de gostar muito de mim, não tinha certeza de que o relacionamento estava maduro o suficiente pra suportar a distância, caso o visto fosse negado que seria algo indefinido. (Aqui eu me coloco em pé e bato palmas para todas as Kazetes!). Então bora tentar a troca de status dentro do EUA mesmo.

Com a graça de Deus, tudo deu certo e o meu pedido foi aprovado no começo de 2009! Encontrei uma escola de inglês em San Francisco mesmo para tirar a certificação TOEFL e as coisas andavam relativamente bem. Até que fiquei muito homesick. Uma vontade doida de ir pra casa, conhecer minha sobrinha que nasceu enquanto estava aqui. O meu namorado se sentia impotente porque não podia fazer nada para ajudar a minha situação. Aí vocês me dizem: ué, era só ele casar com você que você teria o green card e poderia ver a sua família! Esta resposta seria certa se ele fosse cidadão americano, o que não era o caso. Ele mesmo estava esperando o green card dele ser aprovado desde 2004! Se alguém acha que a imigração é complicada e demorada para conceder green cards por casamento, converse com alguém que esta esperando green card através de trabalho. É a coisa mais confusa que já vi na minha vida! Depende de quando você enviou os documentos, mas também a categoria em que o seu trabalho está e claro, de qual parte do mundo você é!

Então todo mês, nós entrávamos no site da imigração pra olhar o visa bulletin do próximo mês, numa agonizante espera vendo as vezes as datas avançarem algumas semanas e outros meses regressarem por anos! A opção enquanto esperava isto desenrolar era continuar a minha vidinha limitada como estudante internacional, que não é autorizada a trabalhar fora do campus da escola ou universidade. E esperar por um milagre na "fila do green card".

Em 2010, depois de 2 anos de namoro meu amado me pediu em casamento. Foi o dia mais feliz da minha vida! Muito feliz porque o homem que eu amo e que sempre acreditei que seria meu marido me pediu em casamento. Foi o melhor presente de aniversário que eu poderia receber dele! Ligamos para as famílias e todos ficaram muito contentes. Dois dias depois, meu marido dá a idéia de casarmos quando a minha mãe estivesse passando férias conosco, dali a 2 meses. Eu fiquei uma noite inteira sem dormir. Foi rápido, era o que eu queria, mas ao mesmo tempo me dava muita tristeza porque eu não poderia dividir este momento com a maior parte dos meus amigos e família porque eles não teria dinheiro e tempo hábil para agilizar passagens, visto, etc para estarem conosco e eu tinha aquela "restrição" para sair do país. E novamente outra decisão difícil foi tomada e seguimos adiante com os planos para um casamento simples, no City Hall de San Francisco.

Os poucos amigos e familiares que vieram tornaram este dia muito especial. Um dia inesquecível em que eu passo e repasso na minha memória de tempos em tempos. Eu estava muito feliz, mas ainda existia aquele vazio dentro de mim por conta da limitação em que eu vivia. Indo estudar e sem poder exercer a minha profissão na área de tecnologia no pólo tecnológico do mundo, Silicon Valley, onde moramos. Tive dias de muito choro, muita solidão e muita homesickness. Meu marido procurou o advogado que estava cuidando do processo de green card dele e ele disse com todas as letras, que ir para o Brasil tentar visto de estudante agora casada era 100% chance do visto ser negado, porque a minha intenção claramente era de permanecer no país e não apenas estudar e retornar ao país de origem.

Durante toda esta espera eu tive muita fé, eu precisava ter muita fé em Deus pra não ficar louca e também para não deixar o meu marido triste. Apesar de toda esta limitação, eu tinha uma vida boa e confortável, mas sempre ficava aquele desejo de quero mais. E foi com este desejo de quero mais que decidi encarar a faculdade aqui. Estava cansada de ir pra escola de inglês em San Francisco e apesar dos meus medos, precisava encarar este desafio. E em setembro de 2011 eu entrei numa faculdade americana.

Foram bons dias, mas também dias de tortura pra mim. Nunca tinha sentido o peso da minha idade até sentar numa sala de aula em meio a pessoas com no máximo 20 anos de idade. Não tínhamos nada em comum, vivíamos em outro planeta, mas pelo menos por lá ninguém ficava me perguntando sobre a minha situação de imigrante, como acontecia na escola de inglês. Eu era uma pessoa no meio de um monte de estranhos e isto foi algo que mexeu muito com o meu coração, porque a solidão e o isolamento bateu muito forte. Foi preciso manter focada no meu objetivo principal, no amor ao meu marido e a Deus, acima de tudo para conseguir superar estas dificuldades. Na minha jornada eu não encontrei ninguém que estivesse em situação parecida, então os conselhos por mais bem-intencionados, as vezes não ajudavam muito. Muitos não entendiam sequer porque estava reclamando e triste, já que eu morava no paraíso chamado Califórnia e tinha um bom marido, boa casa. E eu não reclamava, nunca reclamei. O que sempre me incomodou demais foi o isolamento e a minha falta de liberdade para fazer o que eu quisesse e bem entendesse...

Então em outubro de 2012, numa manhã antes da faculdade, meu marido olhou o site do visa bulletin e viu que a data do processo dele finalmente estava atual e o processo do green card dele iria em andamento! No nosso caso, como ele ainda não tinha recebido o green card, eu poderia ser incluída no processo dele assim que ficasse atual como dependente. Aí foi aquela correria boa de fazer exames médicos, tirar fotos e esperar até o dia 1 de novembro para enviar os meus documentos para a imigração.

Foi uma alegria muito grande quando no final de novembro o meu marido recebeu a aprovação do pedido de green card dele e em alguns dias recebeu o cartão em mãos. Durante o início até o recebimento do cartão foram 8 anos de espera! Apesar de estar muito feliz e eu querer fazer a maior festa do mundo, ele ainda não estava 100% feliz porque queria que o meu green card fosse aprovado logo, porque assim eu teria a minha liberdade de volta e poderia finalmente visitar minha família no Brasil, Escócia e Canadá. Os advogados não sabiam dizer quanto tempo iria demorar o meu processo, tudo ocorreu conforme os livros do recebimento dos documentos, as cartas de confirmação do processso e a carta para fazer os biometrics, ou seja, as impressões digitais e a foto. No meio de dezembro foi o que eu fiz e entrava de vez em quando no site para ver se havia alguma mudança. E nada!

Viajamos para o Colorado no Natal e assim que aterrissamos no aeroporto de San Francisco, liguei o meu celular e vi que tinha 2 emails. Um era a devocional diária que recebo por email e a outra era o USCIS! Eu abri correndo e quase gritei ali mesmo dentro do avião ao ler que o meu green card tinha sido aprovado naquele mesmo dia! O meu marido ficou com olhos cheio de lágrimas, uma felicidade indescritível. Finalmente aquela espera tinha acabado e eu tinha recuperado a minha liberdade de volta. E finalmente, depois de 5 anos e 10 meses morando aqui, casando, comprando casa, pagando imposto... finalmente eu posso dizer que os Estados Unidos virou o meu lar.

Sexta-feira passada o cartão chegou em casa e eu fiquei olhando boba, sem acreditar. Porque o meu green card é baseado no do meu marido na categoria de trabalho, eu não tive que fazer nenhuma entrevista, mandar nenhum papel além da certidão de casamento para provar nosso relacionamento e a maior surpresa de todas é que tem validade de 10 anos já. A primeira coisa que fiz foi avisar a faculdade para cancelar o meu visto de estudante.

As viagens para o Brasil, Canadá e Escócia estão marcadas e todos estão muito ansiosos e felizes. Eu ainda estou reorganizando a minha vida com a minha recém adquirida liberdade. Muitos planos, muitos sonhos porque eu sei que a jornada não terminou aqui, mas está apenas começando. E agora mais do que nunca, ao chegar no aeroporto em San Francisco e ouvir o "Welcome to San Francisco", posso com convicção e alegria dizer: Home, sweet home...