Searching for Sugar Man

Foi numa conversa na aula de espanhol após a cerimônia do Oscar que ouvi o nome deste filme pela primeira vez. A minha professora disse que o filme havia ganho o prêmio de melhor documentário e que tinha sido filmado quase que em totalidade com um iphone. A história parecia interessante.
Um cantor de Detroit que simplesmente nunca foi conhecido ou reconhecido nos EUA foi um grande sucesso, maior mesmo que Elvis Presley e Rolling Stones, na África do Sul. Dizem que ele fez a cabeça da geração rebelde que lutava contra o Apartheid no país. Era um ídolo mas pouco se sabia sobre o mesmo. Infelizmente as notícias que chegaram era que ele havia se suicidado. E o mito continuou e cresceu. E ele vendeu milhões de discos e depois CDs para gerações de sul-africanos. Até que um dia alguém resolveu buscar a verdade. Tentar encontrar este tal de Rodriguez e saber o que realmente causou a sua morte.
O documentário é cheio de entrevistas e recheado com as músicas tristes e fortes do cantor. E no meio do filme você fica tenso no sofá querendo saber o que aconteceu com o mistério, até que você vibra e chora com as respostas encontradas.
Não vou contar mais sobre o documentário, mas gostaria de colocar aqui as lições que este lindo documentário trouxe pra minha vida:

O cantor veio de uma família pobre e viveu numa cidade cheia de violência, drogas e pobreza. Detroit não era exatamente um lugar lindo para se viver naquela época. Mas ao invés do cantor transformar a situação que via em revolta, amargura, ele transformou em poesia, em música. Assim como um dos seus colegas de trabalho que foi entrevistado durante o filme disse, "Você pode transformar coisas ruins que estão ao seu redor em algo lindo.". Eu não acredito que uma pessoa que não nasceu em condições favoráveis seja condenada a viver uma vida ruim, de pobreza, de amargura. O meio irá sim, de certa forma influenciar a forma como vivemos, mas cabe somente a nós decidir se esta inflência será negativa ou positiva.

A nossa vida tem um impacto enorme na vida de outras pessoas, de uma forma que as vezes a gente não tem a menor idéia. Assim como o cantor que não tinha a menor idéia do quanto as suas palavras ajudaram a mudar a cabeça de uma geração a lutar abertamente contra opressão, nós não temos a menor idéia do quanto podemos influenciar com a nossa vida e com as nossas palvras a vida de outras pessoas. Por isto devemos sempre tentar plantar coisas boas, não somente no nosso jardim mas também no jardim dos outros. Nunca pense que a sua vida não tem valor e que você jamais fará a diferença no mundo porque você é uma pessoa importante e única.

Os sonhos só morrem quando deixarmos de alimentá-los. Uma pessoa no filme disse: "Não é porque alguém é pobre e tem uma situação desfavorável que não tem a capacidade de sonhar e fazer coisas maravilhosas". Que mais bela verdade. Todos nós somos capazes de sonhar e fazer os sonhos se tornarem realidade, a não ser que desistamos deles. Talvez não seja a realização imediata ou da forma que se esperava, mas um dia se tornará realidade. Aprendemos tanto com as pessoas ao redor, não importa se é o gari ou o presidente. Todos tem dentro de si algo de belo e importante para compartilhar, esteja atento as oportunidades e aprenda com os outros. Ajude sonhos a se transformar em realidade e se não puder fazer nada, pelo menos não mate os sonhos de outra pessoa por mais impossíveis que pareça porque pode ser que seja a única coisa que esta pessoa tenha para ter forças para viver.

Seja você mesmo. Seja humilde. A humildade é uma das mais belas qualidades que uma pessoa pode ter. Fiquei impressionada com a humildade do cantor Rodriguez, a forma simples das suas palavras, o seu estilo de vida. A sua humildade foi inspiradora e cativante.

Um dia, você irá colher os frutos do seu trabalho. Por isto, preste bem atenção no que está plantando nesta vida.

Aqui está o trailer oficial do filme, quem está no Brasil acho que o título é "Procurando por Sugar Man", mas não tenho certeza. Se tiver oportunidade, assista o filme e inspire-se! E me deixe suas impressões sobre o mesmo.


A Califórnia em que eu vivo...

Como havia comentado em algum post anterior eu meio que vim parar na Califórnia sem querer.
Na verdade tudo o que eu sabia da Califórnia eram as informações dos filmes e seriados americanos, que mostram aquela vida luxuosa de Beverly Hills e a vida descontraída dos surfistas e gente que adora morar a beira da praia.
O que ninguém me contou é que esta é a realidade de algumas pessoas sim, mas não da maioria dos californianos, principalmente daqueles que moram pelas bandas de cá, na região de San Francisco. A Califórnia é giiigante e com tantos climas, culturas, pessoas e costumes que sinto até injusta a minha tentativa de tentar explicar pra alguém como é a vida aqui. Porque sim, a Califórnia pode ser boa ou ruim, depende da pessoa que você perguntar, por isto a  singela visão sobre a Califórnia que eu conheço, levando em consideração a minha experiência, o que vi, vivi e ouvi por aqui. As diferenças são muitas, mesmo levando em consideração de cidade pra cidade. Mas algumas características são comuns. Ou pelo menos se percebe na maioria das vezes e das pessoas e é isto que quero falar um pouco, talvez matar um pouco a curiosidade de quem, assim como eu, achava que a vida na Califórnia seria como a do Seth, Ryan, Marissa e compania do seriado O.C.
O meu primeiro espanto quando cheguei por aqui foi o clima. Achei que teria que me acostumar a morar num lugar quente, mas as temperaturas são agradáveis. Chove alguns meses por ano na época do inverno e depois passamos 8, 9 meses sem chuva. E por causa do Oceano Pacífico a tão famosa neblina é comum nos meses de verão o que pega muita gente de surpresa quando vem passar as férias na região porque a temperatura chega a uns 15 graus em San Francisco. E basta dirigir apenas alguns minutos pra uma cidade vizinha e a temperatura está beirando os 30 graus. Os dias são ensolarados, mesmo que seja frio, o que eu amo. E quando chove, chove pra valer. Apesar de parecer loucura, sim neva por aqui. Mas o por aqui que eu falo é na região montanhosa ao norte do Estado, perto da Sierra Nevada, mais ou menos umas 4 horas ao norte de San Francisco. E é pra lá que muitos vão todos os finais de semana do inverno para esquiar, principalmente na região linda do Lake Tahoe.
As praias são bonitas, mas a água é extremamente gelada, apesar de você sempre ver crianças brincando na água e pessoas passeando na praia com blusas de frio e bota, todas as épocas do ano. E claro, os surfistas com suas roupas de borracha, que só Deus consegue explicar o que eles fazem naquela água gelada em meio a tubarões e ondas gigantes. Como eu nunca fui chegada a me torrar na praia, eu me dei bem com o estilo daqui. Aprendi a apreciar uma tarde tranquila sentada na areia, lendo um livro ou simplesmente olhando o mar. E se você estiver esperando um vendedor trazer aquele espetinho ou bebida, você está bem enganado. A praia aqui é só praia. SE você quiser comer, tem que levar lanchinho de casa ou então ir pra algum restaurante que as vezes nem é tão próximo da praia. E nem pense em beber algo alcóolico porque é proibido (claro que isto não quer dizer que as pessoas não façam, mas correndo o risco de serem multadas). Porém ir a praia é sempre uma ótima experiência, principalmente na região de Monterey e Carmel-by-the-Sea, há mais ou menos 1h ao sul de onde moro pois pode-se ver lontras no mar e uma vez sentada com uma amiga na areia pude ver dois golfinhos brincando bem próximos da costa, a coisa mais linda do mundo. Um dos meus maiores sonhos é poder ver uma baleia, já que por aqui é a rota de migração delas. Se você der sorte pode avistar alguma perdida perto da Golden Gate, mas geralmente o ponto mais legal para ir ver a migração é no nacional parque chamado Point Reyes, um dos lugares mais lindos deste lugar, que fica mais ou menos 1h e 30min ao norte de San Francisco, seguindo a Highway 1. E claro não posso me esquecer dos leões marinhos que estão sempre prontos para uma fotografia no Pier 39 em San Francisco.
Outra coisa que adoro por aqui é a quantidade de parques e praças para fazer caminhada, andar de bicicleta, fazer o famoso hiking que é simplesmente uma caminhada pelas montanhas. Adoraria aproveitar melhor a estrutura que temos ao redor, mas o meu marido não é muito chegado nisto. Mas os californianos adoram e muita gente vai dizer que o hobby no final de semana é fazer alguma atividade ao ar livre, seja caminhar, andar de bicicleta, olhar pássaro, fazer picnic ou coisas semelhantes. O imporante é estar lá fora, outdoor, aproveitando a natureza. Há muitas opções de lazer que são gratuitas ou de baixo custo, o que eu adoro, sempre tem alguma coisa diferente e nova pra se fazer.
Isto me faz lembrar que as pessoas aqui são muito preocupadas com a saúde e muitas pessoas praticam esportes e tentam levar uma vida mais saudável. Então é muito comum você encontrar por aqui pessoas que possuem uma dieta alternativa seja vegetariana, vegana (nada de alimentos de origem animal), sem carboidratos, sem açúcar e claro, tudo orgânico. E isto acaba refletindo nas festas de aniversário, nas reuniões e até mesmo quando eles vão comer junk food como pizza. E pela população ser assim, acaba-se encontrando com certa faciliade supermercados e restaurantes alternativos também. Claro que existem McDonald's da vida, mas a maioria da população não come por lá, principalmente as crianças.
E por falar em crianças a educação das mesmas por aqui também segue o seu estilo alternativo. Nem em sonho você educaria uma criança aqui com palmadas, porque com certeza se a professora ou o seu vizinho descobrir, acabam chamando o Serviço Social pra te denunciar e você acaba sofrendo no mínimo uma investigação por abuso de criança. Então como faz? Aqui tem um tal de ficar argumentando com criança  explicando pra ela o porque disso, o porque daquilo, o porque ela não pode aquilo e o porque dela fazer isto. E se a criança começa a argumentar, tem toda uma explicação do porque do porque do porque... aqui não existe: "Não e pronto porque sou sua mãe.". Toda uma filosofia para educar crianças que seja inteligentes emocionalmente e independentes. Falar não pra uma criança é quase um crime, contrariá-la então até a mesma chorar de jeito nenhum!!!
Há uma mistura racial e cultural imensa por aqui. Quase todos os meus vizinhos são imigrantes. Principalmente na região do Vale do Silício, há gente de todas as partes, então é comum ver pessoas na rua usando saris, burcas, etc. Há restaurantes, supermercados e até mesmo escolas culturais para atender a demanda dos expatriados, o que eu acho ótimo! Depois que vim morar aqui aprendi a comer comidas típicas de vários tipos como indiana, tailandesa, mexicana, cubana coisas que jamais experimentaria em São Paulo primeiro pelo preconceito e claro, pelo preço absurdo desta comidas "exóticas".
Mas não é só na culinária que esta mistura de culturas influenciam a minha vida. Como preciso conviver com pessoas diferentes, de culturas e pensamentos diferentes, religião, costumes e tradições, acabei aprendendo muito a ser mais aberta para aceitar as nossas diferenças e a respeitá-las, mas também as minhas tradições e cultura parecem que ficaram mais fortes também. Apesar de parecer que somos todos tolerantes, às vezes me surpreendo como as pessoas reagem ao ouvir a opinião de uma pessoa que é contrária a da maioria. Por exemplo, se você disser que é contra o casamento gay, mesmo que seja a sua opinião, as pessoas começam a te taxar de um monte de rótulos e a tolerância e respeito acabam indo para o ralo. Acho um pouco hipócrita. As pessoas se respeitam se você tiver a mesma opinião que a da maioria, senão é logo taxado de careta ou granola, ou sei lá o que.
E como consequência viver aqui pode ser algo um pouco solitário, porque não é fácil se relacionar com estas pessoas tão diferentes, porque as nossas expectativas quanto ao comportamento de um amigo, por exemplo, podem não ser correspondidas por conta das diferenças culturais de relacionamento.
E por falar em relacionamento, como é difícil se relacionar com pessoas por aqui! Não somente pela questão cultural, mas porque parece que a maioria esta interessada em apenas fazer networking, caso um dia precise de você. AS pessoas no geral são muito simpáticas, principalmente em lugares como San Francisco, onde elas tratarão um turista muito bem, mas é tão difícil criar laços de amizades. É cada um no seu quadrado. As vezes a vida parece meio plástica, falsa. Aqui não existe esta coisa de visitar amigo em casa, passar horas ao telefone, encontrar pra bater papo. Tudo tem que ser agendado antecipadamente, porque todos estão correndo com o trabalho e cuidando dos próprios interesses. Isto pra mim foi uma das coisas mais difíceis e hoje em dia mesmo morando aqui há 5 anos, tenho pouquíssimas amizades daquelas com definição brasileira.
E por falar nos brasileiros, aqui como em todo lugar do mundo tem aos montes. E dos mais variados tipos, como já expliquei num post anterior também. Mas eu não procuro brasileiros. Se eles chegam até mim e são boas pessoas ficam, se não chegam e vão embora também. O segredo é encontrar um e você acaba encontrando uma comunidade inteira. A minha cabeleireira por exemplo, é brasileira. Existem vários restaurantes, supermercados, mecânicos até mesmo escolinha de português na região. Percebi que tem bastante gente morando aqui da região de Goiânia, contrário a outra costa onde era mais comum encontrar pessoa dos estados do Sudoeste do país. E claro, se você pagar 50 dólares a mais na sua tv a cabo, pode ter acesso a Globo internacional com suas novelas e jornais e alguns programas infantis pra matar a saudade de casa.
Os salários daqui são mais altos em relação a maior parte do país, mas também o custo de vida é muito grande. San Francisco é uma das cidades mais caras do país para se viver, por exemplo. E talvez por causa do custo de vida é que as pessoas trabalhem tanto. Quando a bolha imobiliária estourou em 2008, muitas pessoas perderam as suas casas para os bancos porque estas estavam com o preço super inflados. E por muito tempo os preços das casas estavam baixos, mas agora subiram novamente. E pela imensa procura, até mesmo alugar uma casa custa caro. Um apartamento de 1 dormitório por exemplo, na região do vale do Silício, deve custar em média 1.700 dólares. E não é nada de luxo não viu, coisa simples mesmo. Então mesmo que o seu salário seja maior, não fica muito dinheiro no bolso.
O transporte público é precário. Não no sentido de ser velho ou de não existir, até existe e é bom, o problema é que se demora muito tempo para chegar de um lugar ao outro de ônibus e por isto é quase mandatório ter um carro por aqui. Sem um carro, você não é ninguém ou a sua vida fica bem limitada. O trânsito aqui não é ruim, porque existem as chamadas Freeways, estradas com mais ou menos 4 pistas em cada sentido, que ligam uma cidade a outra. Mas é claro que em horário de pico fica um congestionamento enorme. Uma coisa que não gosto aqui é a agressividade de alguns motoristas e a falta de noção de outros. Mas nada comparado com a loucura de São Paulo e seus motoboys.
Pra ser sincera achava que aqui era bem mais seguro há alguns anos. Infelizmente as notícias que via na televisão no Brasil parecem que estão ficando cada vez mais comuns por aqui. Assassinatos, estupros, sequestros e muitos roubos. Tanto que direto aparece alerta na televisão para se tomar cuidado com celulares, principalmente smartphones nos ônibus e metrô de San Francisco. Uma pena. Tem uma cidade chamada Oakland que sempre está nos noticiários com assassinatos de bala perdida ou de envolvimento de gangues.
E assim é a Califórnia que eu conheço, que  aprendi a amar e a chamar de lar. Não é um lugar perfeito como os seriados mostram, mas é um bom lugar para se viver, com um ritmo diferente do que eu vivia em São Paulo. Se este vai ser o meu lar pra sempre, só o futuro me dirá.

E você conhece uma outra Califórnia? Tem algo que gostaria de saber?  Adoraria ouvir os seus comentários!