Que São Paulo é esta?

Alguém pode achar bem patético ou até mesmo deprimente que uma pessoa que morou desde o nascimento até os 25 anos de idade em São Paulo precise ficar pesquisando na internet sobre a cidade, pontos turísticos, restaurantes, coisas interessantes e afins.
E no meio desta minha pesquisa encontrei muitos blogs legais que falam de uma São Paulo glamurosa, cheias de bares, luzes, restaurantes maravilhosos, museus incríveis, badalação e gente jovem-bonita-inteligente. E aí eu páro e penso. Onde estava esta São Paulo quando eu morava por lá? Por que eu nunca conheci estes lugares, tive estas experiências incríveis a ponto de me apaixonar pela cidade de uma forma tão arrebatadora, a ponto de dizer que não há nenhum outro lugar do mundo onde gostaria de morar?
Depois de pensar um pouco, percebi que esta cidade sempre esteve por lá, mas nunca esteve ao meu alcance. Isto porque enquanto eu morava em São Paulo, tinha que gastar as minhas energias e tempo tentando sobreviver naquela grande selva de pedra.
Porque eu nasci em família humilde, assalariada e desde cedo aprendi que se eu quisesse "ser alguém na vida" teria que trabalhar duro para tentar reverter a desvantagem de ter menos dinheiro na conta bancária.
De estudante de escola pública, tornei-me operária em linha de produção da Avon. Pense passar os dias trocando caixinhas dos perfumes "Toque de Amor" e "Charisma", enquanto alguma desastradas da linha deixava cair e você só poderia tomar banho pra tirar aquele cheiro horroroso por volta da meia-noite quando voltasse pra casa depois das entediantes aulas ministradas por professores desmotivados e cansados. Mas era preciso terminar o colegial, pra poder começar a pensar em ser gente.
Depois de formada, trabalhar no escritório com o pior chefe do mundo ( como eu gostaria que naquela época eu soubesse o que fosse assédio moral e bullying, estaria muito rica agora!) tomava muito, muito tempo e acabou também tomando muito da minha saúde. E o dinheiro ia para o curso de inglês. Mal sobrava dinheiro pra comer um pastel perto da escola com os amigos naquela hortifrutti super chique com frutas tão lindas e tão grandes que pareciam de plástico.
Depois desta fase, veio a tão conhecida época de estudante universitária-estagiária. A venda dos vales refeições pra juntar dinheiro pra pagar a mensalidade, até encontrar um estágio melhor. E enquanto a vida passava, eu lutava e sonhava por dias melhores. E dentro da mochila sempre tinha um lanchinho, um agasalho, uma sacolinha de plástico e um par de meias extra. Porque em Sampa precisamos estar preparados para encarar as quatro estações do ano em um dia, sempre.
Até que um dia enquanto navegava com a minha internet de conexão discada da IG, descobri uma forma viável de concretizar um desejo maior que o meu medo, maior do que os nãos que a vida me dava, maior do que probabilidade de eu quebrar a cara. Um intercâmbio. Agora até o cineminha ficou de lado, em nome da economia.
E o resto virou história. E São Paulo ficou pra trás. Ficou nas poucas fotos e em muitas memórias. Ficou no mapa, mas também no coração.
São Paulo foi o cenário da minha luta árdua para sobreviver e "virar gente" e sei que continua sendo palco para milhares, ou melhor dizer, para milhões de pessoas que são ignoradas, quer dizer, omitidas nestes blogs e artigos de revistas pela internet desta cidade glamurosa, gastronômica e cultural. Acho que todo paulistano tem aquela relação de ódio-amor pela cidade, porque se fosse só ódio não haveria tanta gente ainda morando por lá. Porque sobreviver em São Paulo e conviver com seus problemas é parte da vida de todos, mas desfrutá-la é privilégio de alguns.
Agora com o retorno talvez eu tenha a oportunidade de como uma paulistana-turista, reconectar com a cidade que eu conheço e explorar aquela que não tive o prazer de conhecer quando morava lá. Isto traz uma ansiedade e expectativa boa, e não há realmente o que fazer senão esperar pra ver o que vai acontecer e que cidade eu vou realmente reencontrar. Mas uma coisa é certa...


Finalmente primavera...

Não posso dizer que a primavera é a estação do ano favorita porque cada estação traz a sua própria beleza, mas acho que esta é a estação que me deixa mais contemplativa e feliz.
Aqui na Califórnia o inverno nem é tão rigoroso comparado com as outras partes do país, mas assim como nos outros lugares, acontece uma mudanças bem visíveis na vegetação além do vento gelado e temperaturas mais baixas.
As árvores perdem suas folhas e ficam parecendo mortas. Não há flores, mal vemos passarinhos por aí... a única coisa que parece viva é a grama verdinha, verdinha nos morros ao redor devido a chuva, pois assim que começa a esquentar estes morros ficam com grama seca, o que dá aquela impressão de morros dourados - e também os perigos de queimadas que acontecem todos os anos...
Enfim... na primavera a vida parece ressurgir do nada, flores brotando, folhas novas nascendo, um solzinho pra esquentar e deixar pessoas mais felizes.
Lembram que tinha escrito há alguns meses o post sobre o meu jardim? Pois é, depois de vários meses em que aparentemente nada estava acontecendo finalmente posso contemplar a beleza das tulipas e das dafdolis no meu jardim :-)..


E isto claro, trouxe-me também a lembrança de uma lição aprendida...
Às vezes em nossa vida passamos por longas temporadas de inverno. Seja solidão, tristeza ou apenas um momento muito difícil em que a vida parece simplesmente secar, desaparecer. E é neste momento em que ficamos frágeis e até mesmo aqueles que passam por nós imaginam que não temos mais vida, mais nada para oferecer...
Neste momento o que realmente precisamos é de alguns cuidados  como: proteção das geadas, adubos são colocados no solo. E apesar de parecer que estão sendo machucadas e danificadas, é necessário também podar alguns galhos, retirar folhas mortas, tudo isto para que quando a primavera chegar, a planta possa estar mais firme, mais bonita, mais saudável.
Por isto se você está passando por uma fase de inverno, não desanime. Deixe-se ser cuidada por aqueles que te amam. E a nós, cabe dar um sorriso, uma palavra amiga, um conselho ou apenas ouvir aqueles que estão passando por esta aridez.
Somente assim poderemos juntos, desfrutar com alegria a estação do renascimento, do milagre da vida chamado primavera, cheia de cores e sabores.

Quando a tão esperada férias vira dor de cabeça...

Preciso muito ouvir conselhos de pessoas que moraram no exterior e que voltaram de férias ao Brasil. Principalmente quando retornaram a primeira vez e já explico o motivo...

Como mencionei num post anterior devido a motivos burocráticos com visto não pude ir ao Brasil desde que cheguei aqui. Nisto se passaram 6 longos anos... queria ter pego o avião no dia seguinte do recebimento do meu green card, mas precisamos fazer um longo planejamento para a tão esperada férias.
Na minha inocência e no auge da minha alegria enviei email para os amigos mais próximos e as pessoas que acompanharam ao longo dos anos a minha saga, dizendo quando estaria em São Paulo. E aí os problemas (mesmo que no bom sentido) começaram. Não terei disponibilidade para passar um tempo de qualidade com todas as pessoas que querem me ver. Muitos com grande carinho convidaram para jantar, passar um dia na casa, mas será praticamente impossível por conta dos dias limitados e dos programas que já tinha feito com a minha família.
E aí eu fico me sentido culpada por achar que não vou conseguir dar atenção pra todos. E o marido fica desesperado tentando me consolar, dizendo que não será a última viagem ao Brasil e que haverão outras oportunidades...
O pior de tudo é o seguinte: pessoas que durante estes 6 anos nunca se importaram em mandar email, ligar no skype pra saber como estava, até mesmo deixar um recadinho no facebook e agora dizem que eu não posso fazer a desfeita de não encontrar com eles. Pra vocês terem uma idéia, uma querida amiga muito bem intencionada resolveu fazer uma "reunion"com algumas pessoas que estudaram comigo no ginásio! ou seja, não tenho notícias ou não falo com estas pessoas há pelo menos 20 anos! E ela já deixou bem claro que se eu não for, não terá o tal do encontro. Quando disse a minha disponibilidade ela simplesmente disse que não tenho obrigação nenhuma de ir e nem deixou eu explicara minha situação e desligou o bate papo na minha cara. Fiquei super triste...
Sei que deveria estar suuuuper alegre com esta oportunidade e com tanta gente querendo me ver, mas estou com uma confusão de sentimentos muito grande, porque no meu dia a dia estas pessoas não estão presentes então eu sinceramente não entendo esta vontade e necessidade enorme de me ver...
Se eu pudesse e tivesse tempo, teria o maior prazer, mas não quero e não posso sacrificar o pouco tempo que tenho com a minha família, por outro lado não quero menosprezar a consideração que as pessoas tem por mim...
Enfim, hoje fiquei muito chateada com este assunto e gostaria muito de ouvir a opinião de vocês em relação a isto. A cada dia que se aproxima da viagem a minha ansiedade e nervosismo aumenta, pelo mix de emoções de voltar a minha cidade natal, rever as pessoas que eu amo mas também por conta deste stress...
Desde já agradeço os conselhos e a ajuda!