Chegou a hora da verdade! - Será?

Apesar de não morar no Brasil há muitos anos, continuo acompanhando de perto - da melhor forma possível - o que anda acontecendo por lá. Converso com amigos e com a família e todos são unânimes em dizer que as coisas estão indo de mal a pior...
Quando ligo a televisão e vejo as notícias dos escândalos de corrupção o meu estômago revira. Fico pensando como e quando é que as coisas irão finalmente mudar, e lembro que as eleições estão apenas há 1 semana de distância.
É ali, naqueles segundinhos apertando os botõezinhos da urna que as coisas podem e devem mudar. Mas quantas vezes nós vamos até o local de votação com a maior má vontade do universo, sem esperança alguma, com o sentimento de que estamos apenas apenas cumprindo com uma obrigação e que nada vai mudar?
Não me envolvo em discussões políticas e nem defendo ninguém a ferro e fogo. A política no Brasil é tão complicada, tão ineficiente! Já conheci pessoas do bem que tentaram fazer diferença no meio político e desistiu no caminho por conta da muita sujeira. Conheci também pessoas que participaram do "esquema" e achava que os fins iriam acabar justificando os meios. O problema da corrupção é tão complexo porque é algo cultural, arraizado profundamente na nossa cultura e faz parte do nosso dia-a-dia que passa muitas vezes desapercebido e é aceito desde que não faça mal a ninguém, ou você acha que o nosso famoso "jeitinho" não é corrupção?
Enfim... estas eleições pra mim são especiais porque é a primeira vez que votarei desde 2006 quando ainda morava no Brasil. Durante os anos em que estou aqui sempre enviei a minha justificativa pelo correio e após a chegada do meu green card decidi que era hora de transferir o meu título de eleitor para cá.
Transferi o meu título porque queria poder fazer alguma coisa para o meu país além de reclamar. Lembro-me de como fiquei arrasada no ano passado quando estavam sendo feito protestos por todo o Brasil e pelo mundo para o fim da corrupção, que o gigante tinha acordado... fiquei decepcionada por não estar ali, mas eu tinha muita consciência que a minha hora de agir chegaria quando colocasse o meu voto na urna.
Em segundo lugar já estava cansada de ter que enviar uma justificativa eleitoral a cada 2 anos para o Brasil, já que as eleições para prefeito/vereadores são diferentes das presidenciais/governadores. E eu gosto de ter as coisas certinhas, não queria ficar esperando pra quando for ao Brasil pagar uma multa para colocar a situação em dia, mesmo porque eu sou obrigada a manter as coisas em dias porque sem isto não consigo ter o meu único documento brasileiro válido aqui - passaporte.
Nem sempre é conveniente transferir o título de eleitor no exterior pois às vezes as zonas para votação fica muito longe de casa, no meu caso é apenas mais uma desculpa para ir até San Francisco. O processo lembro que não foi difícil, eu levei o meu título antigo e acho que preenchi um papel no site da justiça eleitoral e imprimi como estava a minha situação também. Pra ser sincera eu acho um saco esta obrigatoriedade de voto, uma coisa que até hoje o meu marido não consegue entender. E fica ainda mais difícil pra ele entender as implicâncias burocráticas - como problemas para emitir passaporte - em não votar... Mas enquanto não é anulada a obrigatoriedade de votar, a partir de agora até os meus 70 anos, a cada 4 anos irei às urnas para votar apenas para presidente, já que é o único cargo que brasileiros no exterior votam.
Enfim... espero que a população brasileira pense com muito carinho na hora de apertar os botõezinhos da urna no próximo domingo. As pesquisas que eu vejo me deixam bastante preocupada porque não acredito que seja o fiel retrato do que está acontecendo por lá. Achei bem interessante o que a Bah falou sobre a pesquisa Datafolha neste post , só para confirmar as minha suspeitas sobre a integridade destas pesquisas...
O meu sincero desejo é que as pessoas votem com consciência nestas eleições e não se esqueçam da palhaçada que aconteceu e está acontecendo no Brasil. É com este sentimento que vou para as urnas no próximo domingo.

As vidas de uma expatriada na América

Durante o tempo em que moro nos Estados Unidos, passei por experiências bem diferentes como expatriada. Se for para colocar status imigratórios eu já fui intercambista (Au Pair), estudante e agora residente permanente. Eu jamais imaginei quando cheguei nesta terra que 7 anos se passariam e eu continuaria aqui como uma imigrante. E não tinha a menor idéia de como o sistema de imigração dos Estados Unidos é enrolado, complicado, subjetivo e lento. Muito lento.
Tem gente que acha que aqui tudo funciona bonitinho, afinal, aqui é os "States", mas basta conversar com alguém que passou pelo processo de imigração neste país pra saber que absolutamente nada é preto no branco. Há muitos, muitos tons de cinza envolvidos e são mais frequentes do que se imagina, por isto que eu não me intrometo em dar opinião sobre o processo imigratório de ninguém. Eu passo as informações que sei, dos processos que eu passei e deixo que a pessoa que está interessada em vir pra cá correr atrás das informações no bom e velho google ou consultar um advogado que pode ajudar melhor do que eu. Porque cada caso realmente é um caso
O que posso afirmar com certeza é que cada experiência é única e por isto eu me irrito profundamente quando vejo em blogs por aí pessoas afirmando com todas as letras do mundo que aqui nos EUA as coisas funcionam assim, assim e assim e que você como expatriado/imigrante terá a vida assim, assim e assado. Acho válido compartilhar experiências, mas é impossível dizer que todo mundo passa por isto ou "aqui é assim" porque não é. Até mesmo as minhas três vidas - como au pair, estudante e residente - foram diferentes, com suas responsabilidades, dificuldades e alegrias também.
Algumas pessoas me perguntam se vale a pena vir tentar a vida aqui nos EUA. Sinceramente, não sei responder esta pergunta e acho que nem devo fazê-la. Quando cheguei aqui em 2007 não tinha intenção de ganhar a vida nos EUA, as coisas foram simplesmente acontecendo. Sair do país com a intenção de mudar-se de uma vez pra cá é algo que eu sinceramente não sei se teria tido coragem.
O que sempre falo para as pessoas que pensam em vir pra cá é para pesquisar bastante sobre o lugar onde se deseja morar, se preparar financeiramente e também psicologicamente para isto. É importante ter um objetivo, porque chegando aqui é muito fácil se deslumbrar com tudo e se "perder". Nem tudo é tão fácil como se parece, por isto esteja preparado para os obstáculos da língua, da cultura, dos custos de vida e principalmente do sistema de saúde americano que apenas agora estou começando a entender. E claro, lidar com a saudade de casa e das pessoas que tanto se ama.
Como intercambista (au pair - babá que trabalha e mora em família americana e tem possibilidade de estudar também) tive a oportunidade de morar em lugares incríveis (em New Jersey perto de New York e em Sausalito ao norte de San Francisco). Tinha conforto e não precisava me preocupar em pagar contas, além das minhas despesas pessoais, passeios, etc. A vida era relativamente boa. Digo relativamente boa porque na minha época o salário era de 139 dólares por semana. Apesar de não ter que pagar contas nenhuma, precisava planejar direitinho os meus gastos para que eu pudesse me divertir viajando, comprando algumas coisas, etc. Consegui economizar e aproveitar relativamente bem durante estes dois anos principalmente porque eu não saía para balada e gostava de fazer programas simples que não gastava muito. O problema de ser au pair é como disse lá em cima,
é morar onde se trabalha. Tive até um bom relacionamento com a primeira família com quem eu morei, mas não tive um relacionamento pessoal muito bom com a segunda, então a convivência era muito difícil pra mim. Era preciso comer muitos sapos, e ter um pouco de "sangue de barata" para poder aguentar os desaforos que acontece no relacionamento patrão-empregado.
Ser estudante nos EUA tem os seus desafios também. Em primeiro lugar estudante internacional sempre paga pelo menos 10x mais caro o curso do que os americanos, tudo porque os nossos créditos são mais caros e há um mínimo para se estudar por semestre (12 créditos) para se manter o visto de estudante. Outra coisa importante é que com o visto de estudante não há a possibilidade de se trabalhar fora do campus da faculdade e quando isto acontece, não pode ser mais do que 20h. Claaaaaro que a não ser que você tenha uma situação financeira muito boa, irá encontrar alguns bicos por fora para poder se sustentar. O problema é conciliar o mundaréu de lição de casa e trabalhos que precisam ser feitos, já que os professores exigem bastante dos alunos porque pra eles, ser estudante é a única obrigação de estudantes universitários. Então além de pagar as contas e pagar o custo da faculdade, é preciso encontrar também um tempinho para ter uma vida normal e socializar. :-). Apesar de estar rodeada de americanos, é muito complicado fazer amizade com eles na faculdade, pelo menos para mim foi difícil pois além da diferença de idade, todos estavam sempre correndo de um lado para outro. Até mesmo aqueles que mantém contato é mais questão de coleguismo por conta dos trabalhos da faculdade, etc. Ser estudante em universidade americana não é difícil como eu sempre digo, mas é algo muito trabalhoso e vai consumir muito do seu tempo, por isto é preciso se dedicar pra não se afogar no meio das tarefas e esquecer de viver.
Por fim, viver como residente permanente é bom porque te dá a liberdade para trabalhar, estudar, viajar, morar onde quiser. E claro, ter a vida de "adulto" por aqui. E como todo adulto há várias responsabilidades, o pagamento das contas, etc. Entrar no mercado de trabalho americano é mais difícil do que se imagina, pelo menos esta é a experiência que eu tive. O mercado de trabalho é super competitivo e é preciso ter boa qualificação, domínio do idioma, experiência e assim como no Brasil, muitas vezes... QI - quem indica. Há outros aspectos da vida de um residente permanente que são comuns a qualquer adulto em qualquer parte do mundo - casamento, filhos, etc. e que muitas vezes tem o fator "complicante" das diferenças culturais.
O que quero dizer com este post é que como expatriato, não importa qual seja o seu status imigratório, sempre haverá obstáculos mas também as suas delícias. O importante é sempre aproveitar da melhor forma possível a fase que se está vivendo e estar preparado para os percalços que podem acontecer no caminho.
Durante a minha estadia aqui conheci muita gente que viveu aqui de forma ilegal. Não posso dar a minha opinião de como é a vida de um imigrante ilegal, porque não passei por esta situação mas posso dizer que a reclamação número 1 de todos é a falta da liberdade e a limitação que a falta de um status imigratório dá. É possível sim trabalhar, comprar casa, carro, matricular filhos nas escolas, etc e ter até mesmo uma vida relativamente "boa" como imigrante ilegal, mas o constante medo de ser descoberto e as limitações dos trabalhos que se pode fazer além de não poder ir visitar a família no Brasil são fatores que pesam muito e que pelo menos pra mim nunca foi uma opção. Viver aqui de forma legal já dá a maior dor de cabeça, imagino como deve ser muito mais difícil o contrário, mas tem gente que vive assim por muitos anos e é feliz. Tudo depende do seu objetivo de vida.