Você vai sair dessa...



Às vezes esta frase não traz nenhum conforto porque geralmente vem de alguém que simplesmente não sabe o que dizer pra você, provavelmente quando você está enfrentando um problema ou um obstáculo na vida. Num naqueles momentos onde a dor é maior do que a alegria de viver, o desespero é maior do que a esperança de que dias melhores virão. Escutei esta frase várias vezes, especialmente nos últimos meses. Eu sei como é, não são todos os dias que acordo feliz e cantando louvores com o que vejo.
Porém, sexta-feira na cadeira do hospital, olhando ao meu redor e vendo outros pacientes a capa do livro com esta frase “Você vai sair dessa.” fez sentido pra mim. Fechei os meus olhos e me vi sozinha no leito de hospital desejando apenas um banho quentinho. Também me vi na minha própria cama, no escuro desejando apenas ter forças para caminhar lá fora, sair de casa e fazer as minhas atividades rotineiras como limpar, dirigir, fazer compras no mercado. Estou num lugar maravilhoso agora? De forma alguma, mas já estive em lugares piores, com certeza.
Não é fácil lidar com a dor, não importa como ela venha. Pode ser que seja um problema de saúde ou financeiro, um relacionamento quebrado ou sonhos não realizados. Dor é dor. Não é possível compartilhar dor, também não pode ser comparada ou medida. A dor machuca, mas não dura para sempre.
Eu vou sair dessa. E você também. Não estou sozinha e nem você, mesmo que você não acredite. Deus está esperando por você com Seus braços abertos. Ele entende a sua dor. Nós vemos o passado e o presente. Ele vê o que o futuro trará para você. Nosso trabalho é confiar Nele e pedir a Sua ajuda.
Seja paciente.
Olhe ao seu redor e veja as coisas boas que você já teve/tem. Isto vai dar forças para você continuar. Isto vai alimentar a sua esperança e a fé para dias melhores que estão por vir. Isto é o que faço quando os momentos/dias negros chegam. Isto é o que estava pensando sexta-feira e isto é o que estou pensando agora.
Não sei ou entendo porque tenho que passar por este caminho, mas confio que Deus está comigo e este caminho me levará para um lugar melhor e eu vou ter dias melhores. Não esquecerei destes momentos sombrios e de dor porque eles irão construir o meu caráter, eles irão me fazer uma pessoa melhor e mais forte. O que eu sei é que estes momentos não tão felizes vai fazer com que eu seja mais grata pela vida e valorizar o que realmente tem valor. A vida é tão preciosa e nós não damos o devido valor à ela muitas vezes… mais do que deveríamos, nós perdemos tempo com pequenos aborrecimentos e perdemos a visão do que é viver. A vida é boa e não deve ser desperdiçada. Nós nos esquecemos de sorrir e aproveitar a jornada. A breve jornada que temos aqui na Terra com os nosso amados.

Quando é preciso deixar partir...

A lição mais difícil que tive que aprender na vida foi deixar pessoas partirem.
Sabe aquela famosa metáfora de que nossa vida é um trem e que pessoas entram e saem em determinadas estações? Pra mim, os meu trem se assemelharia ao metrô de SP na estação da Sé em horário de pico. Abarrotado. E mesmo assim, não queria que ninguém saísse.

Pois bem. Desde muito jovem eu me agarrava demais às pessoas. Sofria horrores por paixões não correspondidas. Por anos! Curei-me da minha primeira paixão - que foi não correspondida depois de uns 4 anos de rejeição após me apaixonar e ser rejeitada novamente e ficar sofrendo por mais uns 2 anos. E assim por diante. Gastei grande parte da minha juventude sofrendo porque quem eu gostava não gostava de mim. Mas eu tinha os meus amigos. E isto acabava compensando tudo, certo? Errado.

Por muito tempo na escola eu fui odiada pelos meus colegas porque era a CDF, a chata puxa-saco da professora (mesmo não sendo puxa-saco coisa nenhuma) que sempre tirava notas boas. Não me perguntem porque mas eu não tinha muitos amigos na escola e sempre tinha alguém que queria me pegar na hora da saída, pelo simples fato de eu "ser metida". Claro que eu nunca briguei na porta da escola, eu ia pra casa mesmo sob vaias de "arregou, arregou, arregou". E foi somente na minha adolescência que eu encontrei a minha turma, no grupo de jovens da igreja em que frequentava.

Achava que todo mundo era meu amigo e que nós iríamos crescer juntos e conquistar o mundo juntos! E que a amizade iria durar eternamente, até chegarmos ao céu. Como eu era ingênua...
Bastou uma crise de depressão - por conta de um dos amores rejeitados - que vi um a um, todos os meus supostos amigos sumirem. E aí veio a primeira dura lição. A lição de que nos momentos mais negros da sua vida, naqueles momentos em que você não tem nada de bom para oferecer para ninguém, são pouquíssimas as pessoas que irão até você e te extender a mão para te tirar do fundo do poço.

Depois daquela depressão nunca mais fui a mesma. Nunca mais entrei no meio da multidão, não tive mais sorriso fácil e me arrisquei a fazer amizades com quem simplesmente olhasse pra mim. Comecei a ser seletiva porque o meu coração estava muito machucado. E não existe amizade sem doação certo? Mesmo assim, ao longo da minha vida, por todos os lugares por onde passei - trabalhos, faculdade, cursos, lugares onde morei sempre existe pelo menos uma pessoa com a qual consegui construir um laço de amizade que dura até hoje e isto pra mim é uma conquista enorme. Talvez estas pessoas não estejam tão presentes na minha vida como eu gostaria, mas sei que apenas um clique ou um telefonema basta para reconectar.

Algumas pessoas muito boas eu tive que deixar pra trás contrariada, porque era chegada a hora delas partirem, descerem em alguma das estações da vida. Percebi que elas estavam no meu trem porque a porta estava fechada. Era eu quem estava mantendo a pessoa lá dentro. Assim que eu resolvi abrir a porta do vagão,  foram embora e sequer olharam para trás para acenar. Não que elas estivessem desconfortáveis ou infelizes, apenas era hora de ir e talvez embarcar em uma outra viagem de trem.

Mas o que fazer quando a sua melhor amiga - aquela pessoa com a qual você ficava horas conversando, compartilhando segredos, dividindo amores, lágrimas e sorrisos, fazendo mil planos sobre o futuro e imaginando como seria as nossas famílias, filhos, a nossa velhice juntas , que foi sua companheira de viagem por uns 10 anos - dá o sinal de pare porque ela quer descer na próxima estação? O sinal vem sendo dado ao longo dos últimos anos, pequenas mancadas, sumiço nos momentos que mais precisei, desinteresse/muito ocupada para manter contato... eu insisti, eu lutei, tentei conversar sobre o assunto, mas pra ser sincera eu cansei. Até quando a gente perdoa as mancadas, as ausências e pára de ficar insistindo em uma amizade que parece que só você está interessado?

Estou muito triste em ver esta pessoa tão querida saindo aos poucos da minha vida, não por escolha minha, mas por escolha dela, mas a estação está chegando e eu vou abrir a porta. Talvez ela resolva ficar mais um pouco, ou desça e siga o seu rumo. Não sei. A única coisa que espero é que ela tenha feito uma boa viagem e guarde boas memórias da jornada que tivemos juntas. Porque é exatamente isto que farei, apesar da dor da partida.

E a vida volta ao seu ritmo normal...

Adoro receber visitas em casa. Sempre gostei de reunir amigos em casa, fazer comida gostosa, preparar passeios, dar uma de guia turística, sentar no sofá por horas e horas e horas e horas a fio e conversar até altas horas da noite. A minha família é grande, então estava acostumada a sempre ter alguém aparecendo em casa sem avisar e a minha mãe recebendo a todos com alegria e sempre alguma coisa pra comer. Mas ter visitas em casa não tem sempre o lado bom e bonito, tem o lado ruim também. É extremamente cansativo, porque você corre de um lado para o outro o tempo inteiro para ter certeza de que todo mundo está bem alimentado, confortável e feliz.
Pois bem, nas últimas 2 semanas a família inteira do meu marido (pais, irmã e 2 sobrinhos) ficaram aqui em casa conosco, foram bons dias por um lado, mas extremamente cansativos e estressantes. Como ainda não estou 100% recuperada da crise de Lupus, acabei não aproveitando tanto a presença deles quanto gostaria e até fiquei um dia de cama bem doente porque numa ânsia de querer acompanhar o ritmo deles e de ter uma vida "normal", acabei puxando demais os meus limites e não cuidei tão bem da minha saúde quanto deveria...
Agora a casa está vazia e a rotina voltará aos poucos. Deixo para trás os perrengues e pequenos aborrecimentos e lembro-me com carinho dos bons momentos, das risadas e da gostosa sensação de ter família por perto, casa cheia e barulho, já que estes momentos são tão raros na vida de um casal expatriado.