8 anos de EUA

Há 8 anos estava no aeroporto de Guarulhos, morrendo de ansiedade para entrar pela primeira vez em um avião. Mal sabia que aquela viagem iria mudar completamente o rumo da minha vida. Tinha 25 anos, mas o deslumbramento com as coisas e as experiências novas era de uma criança de 5 anos de idade. Incrível como o nosso olhar muda quando enxergamos as coisas pela primeira vez.
Inicialmente o plano era ficar 1 ano nos EUA, aperfeiçoar o inglês e voltar para casa. Mas aí surgiu a oportunidade de ficar mais um ano e pensei comigo, por que não? Afinal não tenho nada me prendendo lá no Brasil e me mudei para a Califórnia, o lugar que morria de medo de ir por causa de terremotos.
Mal coloquei os meus pés neste lugar e conheci o meu marido e a vontade de embora se foi, afinal, como poderia ir e deixar para trás o amor da minha vida? A decisão não foi fácil de ser tomada, mas valeu a pena.
Há quem pense que morar no exterior é um mar de maravilhas, mas não é. Tem muita coisa boa, aqui eu tenho uma vida tranquila, estabilizada. Gosto do clima daqui (apesar que uma chuva seria muito bem vinda neste momento!), das facilidades pra donas de casa,da mistura de pessoas, da oportunidade de sempre ver e conhecer algo novo. Dos muitos parques, das praias próximas, dos morros de San Francisco.
Mas a vida não é feita apenas de coisas e facilidades. A minha família não está próxima e meus amigos também não. Com o tempo você cria um mecanismo de defesa para amenizar a dor da saudade, e as pessoas vivem a vida delas sem você. Quando você deixa o seu país de origem, na maioria das vezes você deixa um pedaço de você, uma vida profissional que muitas vezes vai ficar para trás pelo menos até você se estabilizar no novo país. Muitas pessoas passam por uma crise de identidade profunda porque a situação no novo país é diferente, é preciso lidar com cultura, língua diferente e infelizmente preconceito.
Esta semana uma amiga compartilhou um vídeo do youtube sobre uma jovem imigrante espanhola que retornava para casa depois de 2 anos fora, fazendo uma surpresa para a família. O vídeo é curtinho e emocionante, mas o que mais me cortou o coração é a mensagem do final dele, que diz que as lágrimas doloridas de sua mãe pela partida da jovem é culpa daqueles que tiraram desta jovem a oportunidade de ter um bom futuro em seu próprio país. (vídeo aqui, com legenda em inglês)
Embora a curiosidade de ver o mundo tenha me feito sair do Brasil, foi a oportunidade de uma vida melhor não me deixou retornar. E como queria que as coisas fossem melhores no nosso país para que eu pudesse voltar e ter a oportunidade de ter a mesma qualidade de vida que tenho aqui, com a vantagem de poder ver a minha sobrinha crescer e meus pais envelhecerem.
É preciso ter muita coragem para deixar tudo para trás e começar tudo de novo em um lugar estranho, com pessoas, costumes, cultura e língua diferente. Tenho vontade de bater nas pessoas que dizem: "Ah, eu jamais deixaria a minha família porque sou muito ligada à eles...", como se todos os imigrantes fossem as pessoas mais desalmadas do mundo, que não estão nem aí para a família e só pensam em coisas materias e dinheiro. A vida é cheia de renúncias e às vezes é preciso fazer sacrifícios.
O importante é olhar ao redor e ver as coisas boas que existem na vida ao invés de enumerar as coisas que não se tem, trazendo assim a  infelicidade e frustração, afinal, a vida é única e muito preciosa para ser desperdiçada independente do lugar onde se mora.
Por enquanto a Califórnia é meu lar e é aqui que vou fazer de tudo para ter uma vida feliz.

4 comments:

  1. Adorei seu texto....e muitas vezes não dá nem pra explicar o que sentimos.....o pior do Brasil pra mim é a insegurança, impunidade. E sim, ter a sabedoria para aproveitar as coisas boas do lugar onde se vive, viver com contentamento e buscar a paz que excede todo entendimento...esteja onde estiver. Bj

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    1. Coisas boas e ruins estão em toda a parte, basta a gente enxergar o que quiser, não é mesmo Kel?

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  2. Cada vez que leio um post seu meu carinho e admiração por você só crescem. Adoro seu jeito de ver as coisas, tão sensata, tão pé no chão e sempre com esperança.
    Fiquei com vontade de conversar com você pelo skype. Topa?
    Beijos

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    1. Aww, obrigada pelo seu carinho Paula! Adoraria conversar contigo por skype, passo o meu usuário por email, ok?

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