Remédios nos EUA

A primeira vez que entrei em uma farmácia nos EUA quase tive um treco e também rolou uma lagriminha no meu olho de emoção. Deixa eu explicar...
O treco foi em ver a quantidade enorme de medicamentos que você pode comprar na farmácia sem precisar de receita médica, os chamados "Over the counter medication". Colírios, remédios para dores, problemas digestivos, respiratórios, até para tratar problemas femininos, vitaminas, tudo ali ao alcance das mãos. E os americanos fazem uso destes medicamentos! Acho até eles um pouco hipocrondríacos, mas sabendo o quanto custa uma visita ao médico, dá para entender porque as pessoas se auto-medicam aqui.
A minha emoção foi encontrar um corredor com vários tipos de Tylenol, o único analgésico que posso tomar já que sou alérgica a aspirina.
Agora, se você precisar de um antibiótico ou tratar problemas de saúde mais sérios ou até mesmo anticoncepcionais, será necessário a receita médica que só é obtida após uma consulta com um médico, são os chamados "Prescribed medications"
Algumas farmácias como o Walgreens e a CVC possuem um consultório onde existe uma enfermeira licenciada para prescrever medicamentos, então ela pode passar a receita para males mais comuns como uma pneumonia por exemplo.
O que acho super interessante é que você não saí com a receita na sua mão. O médico envia a sua receita com todas as instruções como : quantidade de comprimidos, quando tomar, por qual período direto para a farmácia. Você informa para o médico a farmácia mais próxima da sua casa e a receita é enviada pra lá.
Isto é feito para que as pessoas não vendam remédios controlados e para que não haja abuso de medicamentos. Se você precisa tomar um remédio de uso contínuo como por exemplo para pressão alta, você recebe 30 comprimidos para um mês e só apenas depois de quase 30 dias é que você pode pegar mais medicamento, assim se evita o uso demasiado ou errado de remédios.
O uso de medicamento é pessoal e intrasferível, no frasquinho do remédio tem o seu nome, o nome do seu médico, as instruções de uso, a cor e forma dos comprimidos e o nome do componente ativo.
Agora uma coisa que eu acho engraçada por aqui... da última vez que viajei para o Brasil precisei pedir com antecedência alguns remédios pois os que tinha iriam terminar enquanto estava viajando. Apenas liguei na farmácia e disse que iria viajar ao Brasil de tal a tal data. Achei que eles fossem pedir a passagem como prova de que iria viajar mesmo, mas eles não pediram nada. Talvez se fosse um remédio "tarja preta" ele fossem mais rígidos.
O valor dos remédios variam muito de acordo com o convênio médico que você tenha. Alguns planos cobrem a medicação 100% outros você precisa pagar uma parcela que pode ser um valor pequeno. Se a pessoa nã tiver plano de saúde, os medicamentos podem ser muito caros, lembro de ter tomado um antibiótico por 3 dias que custou 120 dólares a 7 anos atrás! E o xarope pra tosse que o médico me receitou iria custar 500 dólares, então não comprei, preferi tomar um xarope  Anticoncepcionais por lei não são cobrados, mas é preciso receita médica.
O bom mesmo é não precisar tomar nenhum remédio, mas se você é alérgico a algum medicamento ou precisa tomar um determinado medicamento e não sabe como se chama aqui, o importante é conhecer o principal ingrediente ativo do seu medicamento, aí só procurar no Google que geralmente o princípio ativo dos medicamentos são muito parecidos, pra não dizer iguais ao inglês.
E nunca confie no Dr. Google, se estiver sentindo que alguma coisa está errada, procure orientação médica, não tome remédio sem indicação, mesmo que seja "over the counter" porque pode trazer mais problema do que a solução que se espera.

Comer, comer...

Existe coisa melhor nesta vida do que comer?
Os meus hábitos alimentares mudaram e muito desde que vim morar nos EUA. Estes dias estava lendo um diário de quando cheguei aqui e tinha escrito toda orgulhosa que tinha feito pela primeira vez feijão e até que ficou bom (pelo menos na foto estava com cara boa). Na minha vida típica de jovem paulistana, saía de casa para trabalhar 7h da manhã e retornava 11h da noite, então não tinha tempo e graças à minha querida mãe também não precisava cozinhar.
Mas cozinhar está no meu sangue, veja bem. Praticamente nasci numa família de cozinheiros, chefs, padeiros e doceiros. Todos os meus tios por parte de pai e mãe trabalharam em restaurante e veja bem, meu pai também é cozinheiro até hoje.
Então desde pequena estava acostumada a experimentar comidas estranhas que meu pai trazida do buffet, lembro da primeira vez que vi um kiwi na minha frente quase pirei! Além de linda a fruta era muito gostosa, se estivesse madura claro! E as saladas e salgados maravilhosos que meu pai fazia quando estava de férias do trabalho era uma coisa incrível. (Momento desabafo: meu pai até hoje não me  deu as receitas de salgadinhos como coxinha, kibe, esfiha que ele faz. Ele diz que só sabe de cabeça, mas um dia eu arranco isto dele, pois os salgadinhos dele são os melhores do mundo!)
Mas voltando aos hábitos alimentares por aqui... muita gente fala que aqui é a terra do fast food, comida godurosa e pouco saudável. É verdade que estes alimentos existem em abundância e infelizmente são os mais baratos por isto os mais consumidos. Durante a minha época de au pair lembro de ter vivido a base de McDonald's, Subway e quando em casa caia na tentação das pizzas e massas congeladas da marca Lean Cuisine. Quando comecei a namorar o meu marido foi que um mundo culinário se abriu pra mim...
Pra me impressionar ele fazia macarrão com uns molhos maravilhosos (que depois eu descobri que era tudo comida pré-preparada, mas o que valia era a intenção.) e também como passeávamos muito, começamos a comer em muitos restaurantes e graças a diversidade cultural aqui da Bay Area, as opções eram imensas: mexicana, tailandesa, indiana, chinesa, italiana, etc.
A princípio eu achava tudo apimentado e isto porque aqui eles usam pimenta do reino e sal para temperar tudo. Aos poucos fui me acostumando com o paladar e aprendi a escolher as comidas que me agradava. Acostumei tanto com o sabor da comida daqui que quando os amigos que visitam reclamam da pimenta da comida acho que eles estão todos malucos.
Hoje em dia cozinho muito mais do que como fora, a não ser que o marido esteja doido para comer comida chinesa (que eu detesto) ou comida indiana (que dá trabalho fazer em casa e nunca fica igual). Por questões de saúde também tive que eliminar o sal da minha dieta, então comer fora virou uma missão quase impossível já que o único tempero que eles conhecem além da pimenta do reino é o sal.
De vez em quando dá uma saudade de uma comidinha brasileira então vamos a algum restaurante aqui perto ou se a inspiração é muito grande, faço algo que seja simples em casa mesmo. Os ingredientes estão nos mercados só saber o nome em inglês e procurar.
Já deixei a fase de comer bobeira, doces e hoje em dia só entro no McDonalds se der a louca no marido de tomar café da manhã por lá. A minha alimentação é muito mais saudável do que era no Brasil, mas não tenho mais aquela paranóia de ficar restringindo comida por conta de dieta. A vida é muito curta pra gente ficar se torturando com dietas e depois que fui obrigada a restringir bastante a minha alimentação, fico feliz por ter aproveitado enquanto pude.
A dica se vier para as bandas de cá é ... não tenha medo de arriscar. SE você pedir algo que não gostou, paciência, pelo menos você provou. E se provar e gostar, colocará em seu cardápio mais um prato novo.
Algumas pessoas dizem que é muito difícil se adaptar ao paladar da comida daqui, então coloque a mão na massa e prepare você mesmo a sua comida. Há uma variedade enorme de alimentos pré-prontos, congelados, molhos e vários tipos de macarrão e se der saudade daquele feijão com arroz, nada impede você de preparar e comer feijão com arroz todos os dias! O que não falta na internet são milhões de receitas com vídeos, passo-a-passo para qualquer um virar um grande chef!
Só colocar a mão na massa e começar a comer!

Ah, e uma dica importante pra quem vem pra cá a passeio. Não tenha vergonha de pedir pratos em restaurante e dividir com uma outra pessoa. Apenas diga ao garçon: "We are going to share - Nós vamos dividir". As porções são gigantes e te garanto que mesmo que você divida ainda irá comer muito bem. Alguns restaurantes cobram uma taxa de alguns dólares para dividir, mas vale a pena pela economia da conta e também para evitar o desperdício. Mas se você pediu e não conseguiu comer tudo sozinho, peça uma "bag to go" e leve os restos para a casa. Assim você terá mais do que uma refeição e evitará o desperdício.

O gringo e o português

A maioria das pessoas quando sabe que o meu marido é "gringo" pergunta se ele fala português. E a resposta é sempre a mesma: "Bom, fome e vontade de ir ao banheiro eu sei que ele não passa no Brasil".
Ele já tinha contato com o português antes de me conhecer porque tinha amigos brasileiros (que só ensinaram palavrões pra ele), e aos poucos foi aprendendo os nomes dos pratos que ele gosta, algumas frases básicas, expressões, etc. Mas nada que pudesse manter uma conversa por mais de 2 minutos com alguém.
Quando a minha mãe veio nos visitar a primeira vez em 2010, ele acabou se vendo numa situação onde foi obrigado a conversar com ela, porque naquela época eu trabalhava e estudava e ele ficava em casa com ela sozinho e a minha mãe sem falar uma palavra em inglês não parava de conversar com ele um minuto se quer! Ele sobreviveu graças ao dicionário do celular :-)
Antes de irmos ao Brasil juntos em 2013 ele pediu para que ensinasse mais pra ele pois não queria perder a oportunidade de se comunicar com minha família e amigos e e dei algumas aulinhas de português pra ele (com lição de casa e tudo) e o vocabulário dele melhorou demais. E ele sobreviveu à viagem ao Brasil.
Depois disto ele desistiu das aulas, mas hoje em dia consegue entender muito conversas do dia a dia (já nem posso falar mal dele no telefone com a minha mãe ;-) ), e isto pra ele está de bom tamanho.
Mas nem todo gringo tem esta vontade de aprender português principalmente porque comparado com o inglês é uma língua muito mais complexa e cheia de regras. Tenta explicar por exemplo para alguém que tenha inglês como língua nativa quando se usa o verbo estar ou o ser...
Tenho amigas que os maridos falam português fluente e outros que nem dizem oi, tudo bem. Vejo que às vezes as amigas dos maridos que não falam português ficam muito frustradas com eles, e meio que querem obrigar  eles a aprenderem o idioma. E eles se recusam e a frustração aumenta... aí já viu onde a história vai parar né?
Agora para aquelas pessoas que conhecem algum gringo interessado em aprender português e não sabe por onde começar, pelo amor de Deus não comece enfiando gramática na cabeça deles! Comece por vocabulário de coisas do interesse da pessoa, como comida, música, lugares e frases básicas do dia-a-dia. Vai introduzindo aos poucos a gramática e se errar, por favor não fiquem corrigindo o tempo inteiro! Conheci um casal que o cara tinha uma boa vontade enorme de aprender português, mas só falava quando a esposa estava longe porque era ela chegar perto começava a corrigir praticamente toda frase que ele falava e isto acaba o constrangendo e ele desistia de falar.
Aprender ou não português vai de cada pessoa, mas uma coisa que é essencial num relacionamento multicultural: o respeito com a cultura e as origens do outro e manter em algum idioma um ótimo nível de comunicação.