Alguma coisa acontece no meu coração...

Toda vez que avisto do avião os primeros prédios de São Paulo o meu coração bate mais forte.
E eu sempre lembro da música Sampa do Caetano. A minha relação de amor e odio pela cidade é uma coisa inexplicável ás vezes.
Caminho por ruas tão familiares, mas tudo parece muito estranho ao mesmo tempo. E começo a reparar em detalhes que passavam desapercebidos antigamente. As ruas parecem mais estreitas, as ladeiras mais íngrimes. As pessoas estão menos simpáticas também...
A cidade me recebeu com uma recepção digna paulistana: céu nublado, garoa. Apesar de todos estarem reclamando muito, gostei do friozinho e até mesmo da chuva que caiu alguns dias por aqui.
A minha família está levando, mas é estranho porque ninguém toca no nome da minha vó é como se nada tivesse acontecido, mas respeito a posição deles. Quando alguém fala algo, escuto e assim aos poucos vou sabendo informações do que aconteceu e de como a família está reagindo.
Sinto-me completamente perdida às vezes, apesar dos lugares serem praticamente os mesmos, as paradas e linhas de ônibus mudaram e acho engraçado a minha mãe insistir em levar alguém caso me perca. Como se eu, que estou na minha cidade natal, falando a minha língua nativa, não conseguisse achar o meu caminho de volta pra casa.
Apesar da velocidade reduzida nas marginais, a cidade continua crescendo, se movimentando e parece que vai te engolir e sufocar a todo momento. Demorou alguns dias para me acostumar com o ritmo daqui e não ficar o tempo inteiro olhando ao meu redor, com medo de toda moto que se aproximava ou de uma pessoa mais mal encarada passando por mim. Coisa de gato escaldado sabe?
Tenho aproveitado para encontrar alguns amigos e comer muita comida gostosa. Mas o tempo ocioso e a distância do meu marido me faz ficar com muita saudade de casa.
Ainda estou processando muitas emoções, informações e observações. Volto quando conseguir diregir tudo isso.

Back to California

Viajar é uma delícia.
Voltar pra casa também.
Chegamos no sábado de manhã com uma hora de antecedência do previsto e tivemos que ficar de castigo sentados no avião porque a imigração não estava aberta ou o portão não estava disponível. Tudo o que você queria ouvir às 6:30 da manhã depois de 10h de viagem...
Não sabemos se foi este realmente o problema ou se o aeroporto estava sendo preparado para a decolagem de ninguém menos do que o Sr. Barack Obama. Quando ele viaja o espaço aéreo é fechado e existe todo um esquema de segurança (óbvio). Nada pudemos fazer a não ser esperar até nos liberarmos. Imigração tranquila, malas em mão. Só pensava na minha cama.
Sempre dá uma preguiça enorme ter que limpar e organizar a casa antes de viajar, mas eu nunca me arrependo quando abro a porta da minha casa e sei que pelo menos pelos próximos dias a única coisa que preciso fazer é lavar as roupas sujas e comprar comida. Depois de descansar algumas horas acordei com uma fome e uma energia fora do comum, então já lavei todas as roupas, fui fazer compras para cuidar de outros assuntos durante a semana.
Escrevi com muito carinho os cartões postais para as pessoas que enviaram o endereço, depois por favor me digam se  receberam!
Gostaria de agradecer também as mensagens de apoio à mim e a minha família com o falecimento da minha vó. A gentileza e o amor das pessoas nos tocam de uma forma mais profunda nestes momentos delicados da vida. Muito obrigada pelos pensamentos, orações e palavras escritas aqui.
Por conta de tudo isso, vou fazer avaliação médica e talvez passar algumas semanas no Brasil. Como disse para a minha mãe, a vó eu sei que está bem com Deus mas são os que ficaram aqui na Terra que precisam de apoio e carinho. É sempre interessante observar como as pessoas reagem às circunstâncias da vida e tudo depende do que e em que elas acreditam. A minha família precisa de mim agora e eu preciso deles também.
No meio de tudo isto estou levantando informações sobre cursos porque estou determinada a voltar para a escola ano que vem. O problema é que eu quero dar uma guinada total na minha carreira e esta viagem me ajudou muito a decidir o que eu "quero ser quando crescer". Existem várias opções e eu preciso pensar se quero fazer 4 anos de faculdade começando de onde deixei, tentar validar o meu diploma do Brasil que custaria um rio de dinheiro mas que poderia cortar estes 4 anos de estudo pois poderia fazer uma pós graduação, ou fazer apenas um curso de especialização que custaria bem caro mas me daria uma chance de retomar a carreira em menos de 2 anos. Decisões, decisões, decisões. Seria lindo se eu tivesse tempo para pesquisar e pensar sobre o assunto, mas agora, justamente agora é o momento de decidir pra poder fazer matrícula e começar os estudos em janeiro. Deus me dê sabedoria!
Por aqui continua verão, mas olha eu não reclamo. Digamos que seja "menos mal" temperaturas por volta dos 30C mas sem muita umidade do que temperatura por volta dos 30C com umidade de quase 90%. Juro que eu não sei como as pessoas vivem nestes lugares. E agora com a perspectiva de passar final de primavera em São Paulo ai... quero neve, frio, chuvaaaaa!
Quero muito escrever sobre a viagem, colocar fotos, compartilhar as coisas que aprendi, mas o meu laptop está com o HD cheio e em processo de upgrade. Acho ainda um absurdo que tenho que colocar um HD de 500GB pra colocar coisas "simples"como fotos e documentos no laptop. Dou risada quando lembro que o meu primeiro computador tinha apenas 10GB de HD e nossa, era muuuuuita coisa... enfim...
Os dias tem sido longos, as noites curtas, mas no geral estou bem. Só espero que a minha médica me dê boas notícias sexta-feira e eu possa seguir os planos de ir pra São Paulo.
E a vida continua...

Quimioterapia & Lupus

Semana passada a cantora Selena Gomez confirmou publicamente que ela foi diagnosticada com Lupus. Sempre houveram rumores de que ela tinha a doença, mas as pessoas ficaram surpresas em saber que ela sumiu dos holofotes para tratá-la com quimioterapia. Ela não comentou muito  sobre o assunto e algumas pessoas ficaram em dúvida o que é que Lupus tem a ver com tratamento quimioterápico.
Pois bem, vim aqui fazer a minha parte e esclarecer um pouco sobre o assunto já que também fui diagnosticada com Lupus e também fiz tratamento com quimioterapia. Mais uma vez vale lembrar que Lupus é uma doença auto-imune, ou seja, o sistema imunológico começa a atacar células e órgãos saudáveis do próprio corpo. É uma doença que atualmente não tem cura, e que tem sintomas variados e pode ser fatal se não for tratada adequadamente. Lupus não tem nada a ver com câncer (células malignas crescem incontrolavelmente).
Quando há comprometimento do funcionamento de órgãos vitais como coração, rins e pulmão, tratamentos mais agressivos são escolhidos para fazer com o que o sistema imunológico "páre de funcionar" dando assim uma chance para o corpo se recuperar e o órgão afetado voltar a funcionar normalmente. Este medicamento é chamado de imunossupressante, ou seja, é um tipo de quimioterapia que cessa a produção de glóbulos vermelhos e brancos da medula óssea.
Vale a pena ressaltar que este não é um tratamento "comum" para Lupus, é administrado em casos graves em que a doença está agressiva demais para ser tratada com outros medicamentos. Somente um médico pode avaliar a sua condição e é necessário um monitoramento constante para que a pessoa não contraia nenhuma infecção. Geralmente a quimioterapia é feita por alguns meses e depois com a melhora do quadro do paciente outros medicamentos são administrados.
Não sei qual a gravidade e qual órgão envolvido pela Lupus a cantora Selena Gomez teve, mas imagino o que ela deve ter passado principalmente como uma figura pública, porque  durante o tratamento com a combinação de outros medicamentos pode haver aumento/perda de peso e queda de cabelos. Você está lutando para sobreviver, pro seu próprio corpo não se auto-destruir e ainda precisa lidar com as manifestações exteriores da doença e os olhares críticos e língua maldosa das pessoas.
Eu não perdi totalmente o meu cabelo durante o tratamento que durou 6 meses, mas afinou muito e chegou um momento que tive que cortar bem curto. Aliado a isso o meu rosto inchou bastante e algumas pessoas não me recoheceram quando eu fui ao Brasil. Imagina como deve ser difícil para alguém que o trabalho e a vida inteira gira em torno de uma imagem perfeita?
Espero de coração que ela esteja recuperada 100% e que continue cuidando da sua saúde e que use a sua imagem para trazer mais conscientização sobre esta doença desconhecida e mal-interpretada por muitos.
E que nós possamos ter um olhar de mais compaixão para com as pessoas que sofrem de "doenças invisíveis" como Lupus, pois muitas vezes a pessoa não aparenta estar doente mas está sofrendo com muitas dores e problemas com órgãos internos que ninguém vê.

Quando é horrível morar fora...

Estou no meio de uma viagem que esperei há muito tempo fazer. Descobrindo lugares lindos e me encantando com a cultura e as pessoas de Seoul, Coréia do Sul e de Taipei, Taiwan.
E aí ligo pra casa naquela loucura de fuso horário, contando as minhas aventuras quando a minha mãe diz que a minha vó teve um derrame e estava internada. Fico puta da vida porque no meio de tanta tecnologia existente no planeta e fora dele, fiquei sabendo da notícia no dia seguinte do ocorrido. Tento manter a calma e converso muito com a minha mãe sobre a situação dela e faço ela  prometer me mandar mensagem não importa qual seja a hora com novidades.
No dia seguinte saio para fazer um passeio que já tinha programado, mas o coração não está em paz. O lugar é lindo, sorrio para as fotos mas não me sinto feliz. O meu coração está no Brasil, imaginando o que deve estar acontecendo por lá. Aí meu celular acaba a bateria e eu pego a bateria extra e recarrego um pouco. Quase no final da tarde o bateria morre de vez e só consigo ligar o celular uma hora depois quando retorno ao hotel.
O meu coração pára por um segundo quando vejo a mensagem da minha mãe que dizia "A mãe faleceu.". Ligo pra casa aos prantos, mas tento me controlar porque sei que é mais difícil pra minha mãe do que pra mim.  Eu perdi uma vó. Ela perdeu a mãe e eu já começo a chorar só de imaginar na dor que ela deve estar sentindo.
Minha vó morreu de complicações de pneumonia. Pensa, PNEUMONIA! Mas isso não importa, acredito que ninguém deixa este planeta um milionésimo de segundo antes ou depois do que deveria. Assim foi a vontade de Deus. Trocamos palavras de consolo e digo pra minha mãe que ela sempre foi uma filha maravilhosa. Dedicada, amorosa e ela esteve com minha vó algumas horas antes dela falecer. Teve a oportunidade de dizer adeus. Nós duas sabíamos no fundo, que seria uma despedida. Nos confortamos com a certeza de que agora a vó está descansando no Senhor, sem dores, sem sofrimento.
A tristeza fica para os que estão aqui. A falta, as perguntas, a culpa para alguns. Eles estão neste momento no velório e eu aqui sozinha. No meio deste mundo de gente, sozinha. Queria muito estar lá para poder dar um abraço na minha mãe e na minha família. Mas estou aqui do outro lado do mundo, passando por luto surreal. Entendo racionalmente o que está acontecendo, mas como não estou vendo e vivenciando a perda é tudo muito esquisito.
Nestas horas é muito difícil morar fora. Estar longe. Só por um momento queria uma máquina de tele-transporte pra poder estar lá, mesmo que seja divindo lágrimas e palavras de conforto.
Guardo no meu coração o último encontro com a minha vó, o abraço apertado, as lágrimas que ela deixou rolar dizendo que não sabia se me veria novamente. Não nesta terra, mas no céu a gente se encontra com certeza vó...
E se Deus permitir em breve vou dar um abraço na minha mãe...

California aprova a lei do "direito de morrer"

Na segunda-feira o governador do estado da Califórnia, Jerry Brown assinou a lei "right-to-die", que permite que um paciente com doença terminal solicite medicamentos para terminar sua vida.
Há mais ou menos um ano o debate desta lei cresceu muito no estado quando uma californiana de 29 anos chamada Brittany Maynard apareceu em rede nacional contando a sua história. Ela tinha câncer no cérebro e apenas 6 meses de vida e como no estado não havia lei que permitisse que ela terminasse sua vida, ela se mudou para o estado do Oregon, onde acabou tomando os medicamentos para falecer dia 1 de novembro de 2014.
Nos Estados Unidos apenas 5 estados tem leis que permitem que pacientes com doenças terminais façam suicídio assistido: Oregon, Washington, Vermont, Montana e agora California. A lei será provavelmente válida para o início de 2016. Entende-se como suicídio assistido, a forma que o paciente terminal tem de acabar com sua própria vida com medicamentos prescritos para este fim por médicos.
A lei determina que 2 médicos aprovem o uso do medicamento para terminar a vida e 2 testemunhas precisam estar presente quando o próprio paciente tomar os comprimidos. Ele não pode ser auxiliado por ninguém, precisa ser fisicamente capaz de tomá-los sozinho.
O debate sobre a liberação do suicídio assistido é muito grande. Algumas pessoas temem que pessoas incapazes e idosos acabem sofrendo algum tipo de abuso, mas organizações que apoiam o movimento de "Die with Dignity"(direito de morrer com dignidade) dizem que a maior parte dos pacientes que pedem as drogas nunca as tomam, mas eles tem a decisão e à disposição deles esta alternativa.
Confesso que quando fiquei sabendo desta notícia o meu coração doeu. Acredito que somente Deus tem o poder de tirar a vida de alguém, assim como é Ele quem a concede. Não teria jamais coragem de tirar a minha própria vida e teria muita dificuldade de aceitar que alguém que eu amo tomasse esta decisão, porém eu não condeno as pessoas que assim como Britany foram a diante e terminaram com sua própria vida.
Uma pessoa que tem uma doença terminal e que sabe que vai sofrer no final da vida pode querer tomar a decisão de poupar sofrimento tanto para ela quanto para às pessoas que a amam. Não deve ser uma decisão fácil de tomar, algumas podem dizer que é um ato de covardia ou de coragem depende do ponto de vista.
E vocês o que acham disto?