Só daqui a 4 anos...

29 de fevereiro.
Acho que este dia tinha que ser feriado, o dia em que você tem a liberdade de fazer o que quiser, o que mais gosta neste mundo, já que é um presente ter um dia extra no ano inteirinho pra você.
Pra mim e pra maioria das pessoas, foi um dia comum. Um dia extra de rotina, trabalho, escola, coisas normais.
Lembro que tinha uma colega de classe que nasceu neste dia e eu morria de dó imaginando que ela só tinha aniversário a cada 4 anos, deve ser uma coisa muito complicada pra uma criança lidar...
Diz a lenda na Europa, principalmente na Irlanda do Norte que hoje é o único dia em que a mulher pode pedir o homem em casamento e que se ele recusar, precisa ressarcir a moça e aí o ressarcimento vem de acordo com a lenda e  o país...
Hoje entre uma aula e outra entrei no Periscope e assisti lá de longe, em Belfast na Irlanda do Norte show inaugural do tour 2016 da Adele. Fico muito agradecida pela boa alma que estava lá pertinho do palco e estava mostrando ao vivo o que estava acontecendo - teve até aniversariante do dia subindo no palco, dando abraço na Adele e todo mundo cantando parabéns pra ela.... mas eu fiquei aqui pensando com os meus botões, se eu estou ali bem em frente da Adele acho que a última coisa do universo que eu iria me lembrar seria de recordar aquilo e dividir com outras pessoas que não estivessem por lá pela internet... mas enfim...
Fevereiro está acabando por aqui e as águas de março mais do que nunca estão sendo esperadas pelas bandas de cá. Graças a Deus o primeiro trimestre do ano está chegando ao final e está na hora de escolher as máterias para o próximo trimestre. Fiquei triste porque vou levar 6 meses a mais do que eu antecipei para graduar, mas agora estou focada em não pensar muito nisto e tentar aproveitar o máximo que posso o agora porque o futuro só Deus sabe o que vai acontecer.
Coisas boas estão por vir, mas não quero me antecipar e me agarrar a um futuro que em breve chegará. Quero viver o agora o melhor que posso, com o que tenho, da maneira que sou.

PS: E o Oscar hein? Até que enfim Leonardo DiCaprio ganhou! E fez belo discurso sobre a preservaçao do meio ambiente... agora eu morri de rir foi dos memes na internet falando sobre os comentários da Glória Pires aí na apresentação do Brasil... E não, eu não assisti a cerimônia, sempre ligo nos últimos 10 minutos pra ver as premiações mais importantes. Meu domingo é precioso demais pra ficar a frente da televisão vendo gente rica puxando o saco de gente rica. :-)

Não sou e nunca serei matadora de sonhos...

Estes dias recebi um comentário de um anônimo falando sobre o post que tem sido disparado o mais acessado aqui no blog chamado É legal viver ilegal nos EUA? que eu era apenas mais uma no meio de tantas pessoas dizendo o mesmo blábláblá de que a vida de imigrante não é fácil e que não vale a pena e que viver na situação atual (principalmente em São Paulo) é pior do que todas as dificuldades que possam ser encontradas aqui nos EUA.
Tudo nesta vida é tão relativo... o que eu acho que vale a pena talvez não seja a mesma coisa que outra pessoa... eu não encorajo ninguém a ficar ilegal nos EUA porque EU não acho que vale a pena mas existem muitas pessoas que vieram e vivem aqui por anos nesta vida e não trocariam por nada.
Mas muitas vezes as pessoas que vem pra cá e ficam ilegais ou indocumentados (o politicamente correto a se dizer hoje em dia) não contam o outro lado da moeda, que é perder de certa forma a liberdade de poder estar com a família, viajar para fora do país, muitas vezes ter que exercer uma profissão muito diferente da que tinha no Brasil porque não tem os meios legais para fazê-lo, por passar por limitações e humilhações por conta da situação.
Por um tempo vale a pena por conta do deslumbramento de adquirir coisas materiais, de ter a segurança e poder desfrutar de coisas que a nossa situação econômica e política no Brasil não permitem desfrutar. Só que na vida de um expatriado há varias fases e depois que o encantamento passar, muitas coisas começam a doer dentro do coração. A saudade, solidão, auto-estima são coisas que mexem demais dentro de nós e te digo que nenhum dinheiro do mundo compra a paz de espírito e a alegria do coração.
Digo milhões de vezes e repito: Se você tem vontade de sair do Brasil pra morar em outro país eu sou a primeira a dar o maior apoio pra você! É muito bom conhecer outras culturas, ver como as coisas funcionam em outros lugares do mundo e a convivência com outras pessoas que pensam e agem de forma diferente da nossa cultura nos fazem examinar a nós mesmo e ao mundo, trazendo amadurecimento e tolerância. Porém, se você decidiu fazer as malas e ir embora não seja idiota de fazer de qualquer jeito baseado no que ouviu falar ou que leu na internet. Prepare-se financeiramente, mas principalmente emocionalmente. O mundo está aí pra ser desbravado não por corajosos ou pelos mais preparados, mas por pessoas ousadas e que não tem medo de tentar, de fracassar, de lutar, de pedir ajuda.
Existe um lugarzinho no Sol pra cada um de nós e somente nós podemos decidir onde este lugar é. Eu tenho uma amiga que ODEIA os EUA e morou aqui legalmente por 4 anos até decidir por livre e espontânea vontade retornar para o Brasil porque lá era onde ela acreditava ser o seu lugarzinho ao Sol. Muito fácil criticar a decisão de uma pessoa quando a gente não conhece o que há dentro do coração, como ela é, o que a move...
Portanto, se é aqui, no Brasil ou na China que você quer morar, saiba que sempre haverão o lado bom e o lado ruim, cabe a você analisar os prós e contras e tomar a sua decisão. E como sempre, se não der certo, você pelo menos tentou, experimentou algo novo, aprendeu alguma coisa e continue... Nunca deixe que alguém diga o que você pode ou não pode fazer. Somente você é capaz de escolher e traçar os seus caminhos.
Quando eu decidi explorar o mundo muita gente riu na minha cara, minha família zombou de mim, mas eu me mantive determinada e fui dando passo a passo até chegar aqui e mesmo aqui, passei por várias fases, maus-bocados, momentos difíceis e alegres também e não admito que as pessoa digam que eu tive SORTE. Em primeiro lugar porque acredito que nada nesta vida acontece por acaso. O Deus que eu acredito me protegeu e me abençoou, mas eu TRABALHEI muito pra chegar até aqui.
Muitas pessoas olham pra minha vida, lêem um post por exemplo de que estou aqui há 9 anos, mas ninguém além de Deus sabe o que eu passei durante esta jornada e as decisões que continuo tomando. A vida aqui não é glamurosa. Pode ser que seja mais recompensadora e mais justa, mas não é mais linda e melhor... Uma amiga me mandou uma mensagem hoje dizendo que lembrou de mim porque viu uma foto de alguém aproveitando a Califórnia e eu disse pra ela a mais pura verdade que não me lembro qual foi a última vez que eu, morando na Califórnia, aproveitei a Califórnia... Porque eu estudo, cuido da casa, tenho lição pra fazer, compras pra fazer, roupa pra lavar... ou seja, aqui ou em São Paulo ou no Piauí, todos nós temos uma rotina e nossas obrigações... quem me dera "Viver a vida sob as ondas e ser artista de cinema" como já cantou Lulu Santos... Rotina existe em qualquer lugar.
Portanto vou encerrar este assunto de uma vez dizendo que o que escrevo aqui  é conselho que daria pra um amigo, mas se este amigo disser "Meu, vou pros EUA tentar a vida!" Se é o que a pessoa realmente quer, dou o maior apoio do mundo. Se ele for sucedido, ficarei muito feliz e aplaudirei o sucesso (não tenho o menor problema com isso) e se infelizmente quebrar a cara estarei aqui com o ombro e os ouvidos de amiga para escutar. Pelo menos ele teve a coragem de vir e ver com os próprios olhos.
E pra todos vocês que lêem este blog do Brasil, o meu mais profundo respeito por você. Porque sei o quanto é difícil acordar cedo, ir trabalhar, estudar, pagar conta e ver o salário ir embora antes do dia 15, enfrentar ônibus lotado, chefe chato, coisas caras, insegurança, assalto, medo de andar na rua! Vocês são guerreiros diários e tem o que precisa para mudar a vida se assim desejar. Mudar a vida fora ou dentro do Brasil basta apenas atitude. E um passo na direção certa de cada vez. E não desanimar. E sorrir e aproveitar o melhor que lhe foi confiado.

Só mais um mês...

Alguém aí acredita que já estamos caminhando para o finalzinho do segundo mês do ano?
Ainda bem que este ano temos um dia extra! Uhuuu!!
Sentei para escrever uma dezena de vezes mas quando tinha inspiração, não tinha tempo disponível e quando tinha tempo disponível... na verdade isso é que tem faltado mesmo, o tal do tempo disponível...
Graças a Deus pelas faculdades que tem trimestres e não semestres como a minha. Verdade que os trabalhos e provas parecem se amontoar um em cima do outro e é preciso ter disciplina e não deixar as coisas para depois para que elas não se acumulem, mas quando você tem uma aula terrivelmente chata sabe que só precisa aguentar 3 meses!
A minha aula de história é a melhor, principalmente porque o professor sabe o que está falando! A de geografia é um tédio total, apesar do conteúdo ser muito bom, a professora não tem confiança em passar o conteúdo e enche a gente com vídeos e trabalhinhos em grupo pra pesquisar no celular durante a aula (Eu odeeeeio) a aula nunca passa... Semana passada eu estava esperando pra ver o que é que ela iria falar sobre o Brasil já que estamos estudando sobre a américa do Sul. Tanta coisa pra ela falar sobre o Brasil, mostrar fotos e tal advinhem as duas informações que ela achou interessante dizer pra classe? Falou sobre o Bolsa Família que tem ajudado a população a sair da pobreza e manter as crianças na escola (ai ai, nem vou comentar) e ficou surpresa em saber que entre 18 e 69 anos somos obrigados a votar (aqui voto é facultativo e uma porcentagem absurdamente pequena vota 57.5% dos que podem votar!). Eu não quis dar o meu pitaco no assunto porque a professora tem sérios problema de auto-estima... ela fica pedindo pra gente elogiar, dizer que está gostando da aula, etc, então não ia desmoralizar ou contrariá-la...
E a tediosa e trabalhosa aula de Negócios Internacionais... pensa que em 8 semanas eu já li 350 páginas do livro didático e tem mais 200 até o final do curso. Pergunta agora o que eu aprendi disso... nem vou comentar...
Mas não quero reclamar que eu sei que tenho os meus desafios lá na frente quando tiver aula de literatura, matemática, filosofia... Deus me ajude! Tinha pensado em estudar no verão pra tentar me formar o mais rápido possível, mas já desisti da idéia porque eu preciso de férias e minha mãe virá passar uns dias comigo (contagem regressiva!).
Uma outra hora gostaria de contar um pouco como são as aulas por aqui, mas adivinhem? Pleno domingão e tenho que estudar pra prova de amanhã ...
Retorno assim que puder respirar novamente.

9 years ago...

9 anos atrás eu tinha 2 malas, 200 dólares no bolso, um bicho de pelúcia nas mãos e muitos sonhos dentro do coração. Não tinha a menor idéia de quem iria encontrar e do que iria viver.
Era uma manhã gelada de fevereiro quando aterrissei no aeroporto JFK em New York. Tudo era lindo, tudo era diferente. Tudo era exatamente como nos filmes...
Aquela jovem amadureceu e viveu muitas coisas ao longo destes anos. Aquele lugar encantador, tão diferente e misterioso virou um lugar muito bem conhecido, acabou tornando-se o meu lar.
Eu queria ganhar o mundo e ganhei muito mais do que isso. Ganhei a minha liberdade, independência e o amor da minha vida. Ganhei uma nova língua, novos amigos e um lar.
Mas durante estes anos perdi muitas coisas também, o nascimento da minha sobrinha, a formatura da minha irmã mais nova. Perdi amigos, festas, casamentos, nascimentos, enterros...
Aos poucos as pessoas que ficaram continuaram suas vidas sem a minha presença.
E aos poucos deixei de querer viver em dois lugares ao mesmo tempo e decidi ser feliz aqui. Não que doa menos, mas traz mais paz ao coração.
Se eu pudesse dar um conselho pra Eliana de 25 anos que entrou no avião pela primeira vez pra aventura da vida dela, diria pra ela ficar tranquila que todas as decisões que ela tomar serão as melhores possíveis. Elas não serão fáceis de serem tomadas, haverá muitas lágrimas e ela terá que aguentar muito julgamento por elas, mas vai dar tudo certo. E diria pra ela obrigada porque se não fosse pela coragem que ela teve, eu não estaria aqui, escrevendo este post de 9 anos morando nos EUA.

O dia em que meu médico chorou

Eu tenho um respeito enorme por profissionais de saúde. Sempre tive. Mas depois que fiquei doente, vi enfermeiras e médicos como anjos e heróis que salvam vidas diariamente. E por ter esta visão de vez em quando esquecemos que eles também são seres humanos, com família, sentimentos e não são perfeitos.
Posso dizer que sou tremendamente abençoada com o time de médicos que tenho cuidando de mim. E é time mesmo, 5 médicos que vejo frequentemente desde que fui diagnosticada com Lupus.  O primeiro deles foi o nefrologista que me deu as más notícias e começou o tratamento dos rins. Tenho um carinho enorme por ele, e já discutimos e rimos muito no consultório durante estes últimos 2 anos de tratamento.
Ontem eu não precisei de acompanhamento e de uma cadeira de rodas pra ir ao consultório. Fui dirigindo sozinha e cheguei dando oi pra todo mundo no consultório. Ainda não me conformo é claro, com o fato de ser a paciente mais jovem que ele tem, sempre tenho a impressão de que não deveria estar numa sala de espera de médico onde só se encontra idosos.
Enfim... depois de 2 anos, ele me deu a notícia que tanto esperávamos. Clinicamente a Lupus está dormente - isto quer dizer que os exames de laboratório não acusam nenhuma atividade da doença, mas eu ainda tomo muitos remédios para controlar. Remissão, ou período em que a Lupus está dormente mesmo é quando eu não tiver que tomar os remédios e ela continuar na dela.... E com isso meus rins estão funcionando 100%.
Os olhos dele se encheram de água e disse que aquela era a melhor notícia do dia dele. Ele me deu um abraço e nós lembramos de como eu estava há 2 anos. Agradeci de coração pelo trabalho dele e as decisões difíceis que tivemos que tomar durante o tratamento. No final, deu tudo certo. Ele saiu dizendo tchau que precisava se recompor pra ir ver outro paciente, mas que me veria daqui a 3 meses pra começarmos a diminuir a medicação.
Voltei pra casa aliviada e muito feliz. Ainda temos uma longa jornada, já que não há cura pra Lupus e este quadro pode mudar, mas deu uma sensação maravilhosa de saber que esta batalha nós vencemos.