10 anos de EUA

Esta semana completou 10 anos que cheguei nos EUA.
UMA DÉCADA!
Engraçado que o aniversário da minha chegada aqui coincidiu com a minha chegada nos EUA de uma viagem internacional e estes dois momentos não poderiam ser tão diferentes!
Há 10 anos cheguei aqui com a minha vida inteira dentro de 2 malas e 200 dólares no bolso. Era uma manhã gelada no aeroporto JFK em Nova Iorque. Estava encantada e confusa ao mesmo tempo, tentando fazer sentido do que o oficial da imigração falava as 5 e pouca da manhã depois de 10h dentro de um avião. Esta tinha sido a minha primeira viagem de avião e lembro de ter me fascinado de ter conversado com a aeromoça em inglês e dela ter me entendido.  Tive que abafar a risada no banheiro do avião quando dei descarga e tomei um susto com a sucção do vaso, a primeira de tantas descobertas que faria nesta viagem... O meu avião estava cheio de brasileiras que também estavam indo para a semana de treinamento de au pair, mas eu sentei sozinha, na janela - cortesia da moça do check in que me deu este assento já que era a minha primeira viagem de avião. Queria saborear cada momento, cada sensação e não queria sentir vergonha das muitas lágrimas derramadas em meio aos pensamentos de ansiedade misturados com sonhos e a saudade, que seria a minha companheira dali por diante.
Fico feliz em ter registros escritos e através de fotos deste tempo aqui, porque assim posso reviver momentos, lembranças e revere pessoas que já não fazem parte da minha vida, mas que contribuiram para o meu crescimento e de alguma forma contribuiram para o que me tornei hoje.
Não me recordo se já comentei aqui, mas os meus planos iniciais era permanecer nos EUA somente por 2 anos e seguir caminho desbravando a minha "terra prometida" que era o Canadá.  Mas fico feliz com o rumo que a minha vida tomou e agora, quando o avião chega nos aeroportos de San Francisco ou de San José, o meu coração bate alegre pois sei que cheguei em  casa e que alguém que me ama muito está comigo ou me esperando no hall de chegada do aeroporto.
Quando cheguei em 2007 tinha muitos sonhos, esperanças e muitas dúvidas com o rumo que a minha vida estava tomando. Recebi muitas críticas por deixar a vida de recém-formada e recém-contratada para ser babá de gente rica e arrogante em outro país. Algumas pessoas me achavam louca e irresponsável, outras invejavam a coragem e determinação de desbravar sozinha terras estranhas e distantes. Mas não creio que estava sozinha pois em primeiro lugar, sempre soube que Deus estava comigo em todos os momentos e o amor e apoio da minha mãe e de alguns amigos também me sustentaram nos momentos difíceis. Pra ser sincera eu nem me achava nem corajosa e nem irresponsável, só estava fazendo o meu possível para realizar meus sonhos e objetivos.
Dos sonhos que trouxe comigo do Brasil, alguns se tornaram se realidade e outros nunca se concretizaram. Em compensação muitos que se tornaram realidade eu nem imaginava que viveria. É sempre bom não tentar seguir um roteiro na vida, pra dar oportunidade pras coisas inesperadas acontecerem.
Encontrei muitas dificuldades, enfrentei muita solidão, medo mas eu encontrei uma força e determinação dentro de mim que nem sabia que existia. É verdade o que as pessoas falam que às vezes a gente precisa estar só para poder se conhecer, avaliar crenças, valores e crescer. Estou longe de ser perfeita, mas creio que minha percepção do mundo e de mim mesma melhorou muito com o passar destes 10 anos.
Acredito que a decisão mais corajosa que tive não foi a de sair do Brasil mas sim permanecer nos EUA porque tive que abrir mão de participar da vida das pessoas que eu amo e que ficaram no Brasil.
Os relacionamentos mudaram e não sei se foi porque eu amadureci ou por conta da distância, as pessoas se acostumaram com a minha vaga presença em suas vidas. É o preço de quem mora longe, um preço muito alto e que é muito difícil de pagar. No meu caso, um preço que ainda vale a pena.
Os dias, as estações parecem que demoram tanto a passar, mas os anos passam muito rápido. Por isso  tento ter paciência quando os dias ruins chegam, quando as notícias não tão boas porque sei que por mais difíceis e dolorosos que sejam, eles não são eternos. E os momentos bons eu tento saborear o máximo que posso, tento guardar cada lembrança na memória,  porque sei que estes também são passageiros em nossas vidas e são eles que nos dão forças quando as coisas não estão tão bem.
Sou grata à Deus que me deu muitas boas oportunidades e também me deu sabedoria para saber escolher e aproveitar cada uma da melhor maneira possível.
Se eu pudesse ter uma conversa com aquela jovem de 25 anos no aeroporto de JFK,  eu iria dizer obrigada por ter sabiamente, mesmo sem saber, tomado várias decisões importantes que seriam fundamentais para a felicidade dela no futuro. E entrar naquele avião foi apenas uma delas.

Preenchendo formulários para embarque no antigo terminal internacional em Guarulhos - Fev/2007

Que janeiro foi esse?

Não acredito que janeiro já passou... 2017 chegou com tudo trazendo consigo muitas coisas boas mas muitas coisas nem tão boas assim...
Fiquei bem ocupada durante este  primeiro mês do ano com a preparação da casa para a chegada dos meus sogros e tios do meu marido que vieram nos visitar por algumas semanas. É muito bom ter a casa cheia de conversa e risada mas como anfitriã sempre tem muito trabalho para entreter e alimentar os hóspedes.
Na segunda metade de janeiro fomos com meus sogros para o Hawaii e foi muito bom poder descansar e recarregar as energias. Foi nesta viagem que passei alguns momentos sozinha antes do sol  nascer pensando na vida e encontrando respostas para o que estava me tirando o sossego há alguns dias. Fiquei decepcionada porque mais uma vez não foi possível ver a lava do vulcão ativo Kilauea porque estava chovendo muito para descobrir uns dias atras que ele está expelindo literalmente uma cachoeira de lava no Oceano...
Uma coisa incrível e inesperada aconteceu nesta viagem, estava em um supermercado por lá quando encontrei, quer dizer o meu marido encontrou uma amiga minha lá por acaso. Ele comentou que havia ouvido alguém falando português no mercado e a minha amiga que estava ao telefone o viu e o reconheceu!!! Tinha perdido contato com ela porque ela mudou de celular e foi muito bom revê-la. Ela se mudou para o Hawaii há algum tempo e está adorando a vida sossegada por lá, fiquei feliz porque ela tinha acabado de descobrir que estava grávida e compartilhamos alegrias e lágrimas ali mesmo na entrada do supermercado.
Retornar para casa foi retornar para as preocupações que tem invadido a maioria das casas das pessoas nos EUA nas últimas semanas. Ainda custo a acreditar que aquele homem laranja é o atual presidente do país. Não consigo acreditar que existem pessoas que o apoiam, mesmo ele trazendo medo e insegurança para muitas pessoas de bem.
Além de ele tomar atitudes protecionistas e xenofóbicas, fica cutucando países "inimigos" com a vara curta, quero dizer, com 140 letras pelo Twitter... e tem criticado publicamente a mídia e chamando instituições como CNN e New York Times de mídia falsa. Concordo que a forma que muitas coisas apresentadas ao povo americano é baseado em sensacionalismo e terror mas esse tipo de comentário tem basicamente atacado qualquer veículo que publique críticas dirigidas à ele e suas políticas.
Só sei que há um clima de instabilidade muito grande no país e pelo menos na baia de São Francisco tem gerado muitos protestos e indignação.
Vamos ver o que irá acontecer daqui pra frente mas não acredito que ele terminará o mandato de 4 anos...
Esta semana o que me embrulhou o estômago foram as reações das pessoas na internet quanto a morte da esposa do Lula. Sinceramente não entendo como as pessoas podem destilar tanto veneno e maldade quando estão por trás de uma telinha no conforto de sua casa. Independente de sua visão política e sua opinião sobre o Lula uma pessoa faleceu e acho que o mínimo que devemos ter é respeito pela dor do próximo. Li alguns discursos do próprio Lula usando a morte da esposa como desculpa para ataque político e isso é errado também.
2017 eu juro que pensei que você seria melhor do que 2016 mas a julgar por janeiro eu não sei não...