Formada!

Esta semana fui buscar o meu diploma na faculdade. Estou oficialmente formada.
Na minha faculdade quando você está cursando o trimestre (no caso da minha faculdade que é trimestral) em que vai completar os créditos para concluir o seu curso, você pode entrar com o pedido do diploma. Depois do requerimento o pessoal da faculdade faz uma avaliação para ver se você tem todos os requerimentos e se, dependendo do que cursar, tem direito a mais de uma graduação ou certificado e em 3 meses o diploma fica pronto.
Quando recebi o email que poderia retirar fui toda feliz e contente pra ficar sabendo quando cheguei lá que o meu sobrenome estava escrito errado. 😒
No dia seguinte recebi email que a correção tinha sido feita e que eu poderia buscar o diploma. Fiquei tão feliz!
A mulher que me entregou o envelope me parabenizou e disse que eu deveria ficar muito orgulhosa. Saí de lá muito contente e com um misto de sentimentos dentro de mim. A cerimônia de colação de grau acontece apenas uma vez por ano no verão, por isso só terei a colação de grau no final de junho. Estou bem feliz que a minha mãe estará aqui e poderá participar deste momento comigo.
Agora a pergunta mais difícil que eu tenho que responder para os meus amigos no Brasil é do que eu sou formada já que não é um bacharelado, é um Associate Degree in Arts - Arts and Letters Emphasis e não tem um curso equivalente no Brasil. Tento explicar que é como se fosse um tecnólogo em artes e letras, mas por causa dos cursos que eu estudei, muito mais letras que artes - já que estudei francês e espanhol e só tive uma aula de artes porque era obrigatória.
Algumas pessoas aqui não dão muita importância para um Associate Degree, principalmente em algo que não seja "útil". Eu estava pensando em fazer um bacharelado de linguística, então é como se eu estivesse no meio do caminho. Daqui para frente só Deus sabe que rumo acadêmico e se é que irei continuar, tomarei.
Meu marido me perguntou se a sensação de receber o diploma foi igual ou diferente do diploma que recebi no Brasil. A minha resposta é que os dois tem um grande valor pra mim, mas o sabor de receber cada um é muito diferente.
Quando recebi meu diploma no Brasil a sensação que tive foi de liberdade. É como se estivesse recebendo uma carta de alforria para poder seguir o meu caminho, já que era a única coisa que me prendia no Brasil e a última etapa a ser vencida antes de embarcar para os EUA. Ele também era um símbolo de vitória porque muita gente não acreditou que eu obteria sucesso na área de tecnologia.
Já o diploma daqui tem sabor de superação e vitória. Foram tantos obstáculos a serem vencidos até chegar este dia! Fazer um curso universitário na minha segunda língua, numa cultura diferente, longe de casa e lidando com a burocracia de visto e posteriamente problemas de saúde.
Comparar os dois é injusto porque estava em fases muito diferentes  na minha vida, além dos sistemas de ensino e cursos não terem nenhuma similaridade mas  acho que o daqui me deu muito mais trabalho por conta das tarefas intermináveis e das milhões de provas e trabalhos para entregar.
Sem o apoio irrestrito do meu marido que acreditou em mim e muitas vezes teve que sacrificar horas de lazer porque estava atarefada, e ter muita paciência e carinho nas malditas semanas de prova, não chegaria até aqui.
Agora é hora de curtir umas merecidas férias 😄

Memórias

No finalzinho do mês passado fizemos uma visita relâmpago para os meus sogros na Escócia e aconteceu um fato extraordinário naquela visita que me tocou profundamente.
A minha sogra é uma pessoa que guarda tudo. TUDO! Ela tem grande interesse na árvore genealógica da família e mantém registros e fotos de absolutamente tudo.  De vez em quando quando estou por lá ela pega alguma coisa para me mostrar - como álbum de fotos, vídeos de quando ela era solteira e do casamento dela, pedaços do jornal da cidade com fotos do meu marido, quando ele tocava na banda da escola e descobri que ele era um gênio no piano, passando nos exames com honras - a ponto de ir para o jornal.
Nesta última vez, enquanto estávamos assistindo a mais um programa de perguntas-resposta na noite antes de seguirmos viagem ela trouxe uma mala antiga que pertencia à mãe dela. De dentro desta mala tinha uma foto da mãe dela da época que ela era enfermeira na Segunda Guerra Mundial, cartões que eles utilizavam para pegar a comida que era racionalizada, fotos do pai dela. Já me deu um aperto no  coração ver aqueles pedaços de história, porque uma coisa é você ler e ouvir sobre guerra outra bem diferente é enxergar de uma forma tão pessoal, tão próxima de você.
E aí ela pegou um livrinho e disse que tinha sido o tio da avó dela. Era um diário de bordo, escrito durante a jornada entre Glasgow na Escócia até a Nova Zelândia em 1900. EM MIL E NOVECENTOS!!! O livrinho estava bem conservado, mas era difícil ler porque a caligrafia era bem trabalhada, mas fiquei encantada com o que tinha nas mãos. O conteúdo não era algo extradiornário, mas ele contava como era o jantar, com quem falou, como estava o mar... li apenas algumas páginas, mas não pude deixar de ver a última página que era justamente do dia que ele chegou na Nova Zelândia e ele se dizia esperançoso de que a irmã (mãe da vó da minha sogra - acho que é a tataravó do meu esposo??) recebesse o diário de bordo e que ela estivesse bem. A minha sogra disse que ele nunca mais retornou para a Escócia e acho que enviou poucas cartas para a casa.
Pra mim foi algo que tocou fundo no meu coração por milhões de motivos... Nunca que aquele homem iria imaginar que 117 anos depois uma brasileira que de certa forma era agora parente dele estaria lendo o seu livrinho, contando um pedaço da sua vida...
Sempre tive muita vontade de escrever, de contar fatos, sentimentos, de tirar fotos... não para postar em redes sociais, mas para guardar como memórias porque a gente pode não se lembrar disso com frequência, mas assim como os momentos, as pessoas em nossas vidas também são passageiras e a nossa memória falha e muito!!!
Quem é que nunca pegou uma foto antiga e tinha uma pessoa que a gente mal conseguia lembrar o nome? Ou que trouxe uma memória queria de alguém que já não está entre nós ou que simplesmente seguiu um rumo diferente na vida e que a gente nunca mais soube o que aconteceu?
Quando eu era au pair eu mantinha um registro semanal das coisas que eu via, aprendia e descobria aqui nos EUA e dividia com meus amigos e família no Brasil. Era o meu diário de bordo que demorava horas cada semana para ser escrito e que eu parei de escrever no segundo ano aqui porque comecei a perceber que ninguém tinha tempo ou se interessava para ler sobre o que eu vivia aqui.
Parei de escrever os emails semanais, mas continuei um blog pessoal, um diário e hoje, eu fico feliz de ter este registro comigo, até mesmo emails que trocava com amigas cheios de confidência, esperanças e sonhos porque a minha memória é traiçoeira e nem sempre consigo me recordar da forma real que me senti e o que vivi naquela época. As dores e as alegrias podem ser amenizadas ou exageradas em sua proporção e de vez em quando eu leio aqueles emails para me recordar da pessoa que EU mesma era um tempo atrás...
Por isso, continuo persistindo em escrever diário, imprimir fotos e fazer albuns porque sim a internet facilita e muito guardar estas coisas, mas nada como o bom e velho papel, algo concreto para guardar para futuras gerações ou até mesmo para si própria quando a memória dos dias da juventude forem apenas uma névoa na memória...
No fundo queremos ser lembrados e queridos para sempre, por muitos, mas lendo aquele diário eu percebi que o que falam é verdade, que em menos de 100 anos, a maioria de nós seremos apenas mais um ser humano que passou por este mundo e que a existência não é nem lembrada... o que dá um sentimento de humildade e de poder viver o melhor possível e poder fazer o bem para a maior número de pessoas possível porque mais cedo do que imaginamos, seremos apenas um nome, uma vaga memória, um rosto desconhecido num porta-retrato.