A arte e a dor-de-cabeça de presentear

Dar presente é uma arte. E uma enorme dor-de-cabeça também.
Fica bem mais fácil comprar um presente pra alguém que você conhece, tem uma noção dos gostos da pessoa e principalmente das coisas que ela não gosta. Pelo menos na teoria.
Obrigação é algo que mata a alegria e a criatividade de dar presente e eu sou vítima disso. Perdi as contas de quantas coisas ganhei e nunca usei ou que não tem absolutamente nada a ver comigo.
Por este motivo entro em pânico quando preciso comprar algo para alguém hoje em dia. Tenho pavor de gastar dinheiro e tempo escolhendo algo que a pessoa irá detestar/nunca usar e mesmo assim dizer que amou o presente.
Quando cheguei ao EUA fiquei confusa e indignada com a idéia do gift card (cartão presente) que pode ser encontrado em praticamente todas as lojas e também restaurantes. Achava uma falta de criatividade e preguiça dar um cartão com valor X em dinheiro para a pessoa ir até a loja e escolher o que ela quer. Agora entendo a praticidade e como esses pedaços de plástico podem salvar a sua sanidade mental quando precisa comprar algo para alguém que você não tem a menor idéia do que gosta.
Falando ainda de cartão presente, acho super legal que hoje em dia eles evoluíram mais ainda e é possível comprar experiências para as pessoas como por exemplo dar de presente um dia no spa, uma manicure, uma aula de cozinha ou pular de pára-quedas. É uma oportunidade de dar algo que a pessoa normalmente não usaria o dinheiro para experimentar. Além de ser uma opção para aquelas pessoas que você julga que já tem tudo na vida e não quer acumular mais coisas dentro de casa.
Pra mim os melhores presentes são aqueles dados com amor e carinho e que muitas vezes não precisa  gastar quase nada. É um jantar preparado com amor, passar uma tarde batendo papo sem distração na praia, uma cartinha escrita com carinho, um telefonema sincero em tempos de áudio e mensagens no WhatsApp.
Enquanto escrevo este post estou aqui matutando o que vou comprar para o aniversário de 40 anos de um amigo lá no Brasil.
Que pena que a Amazon não chegou no Brasil.  Ela salvaria a minha pele!

Fim da novela: "A Imigrante"

Depois de 11 anos e 7 meses a minha jornada como imigrante nos EUA finalmente terminou.
No dia 26 de julho deste ano num dia ensolarado na Califórnia, eu e mais 449 pessoas nos tornamos cidadãos americanos. Foi um sentimento de alegria, alívio e incredulidade ao mesmo tempo.
Nunca imaginei quando apliquei para o meu primeiro visto dia 26 de dezembro de 2006 que este dia chegaria. Durante o juramento à bandeira passou um filme em minha cabeça de todas as raivas, lágrimas, alegrias e dinheiro que esta jornada custou. Mas valeu a pena.
Graças a Deus o processo foi simples, demos entrada no pedido da cidadania no começo de dezembro do ano passado. Não foi preciso utilizar advogado, lemos, re-lemos e tre-lemos as instruções de como preencher os formulários e já que não possuímos problemas com a justiça, filhos ou outros casamentos a documentação foi bem simples. Fizemos a coleta das digitais e fotos no começo de janeiro e em junho fizemos a entrevista.
Quando recebemos a carta marcando oficialmente a cerimônia de juramento, ficamos tão felizes. Eu chorei. Corremos para contar para as nossas famílias, mas estranhamente eles não entenderam a importância deste fato pras nossas vidas. No dia-a-dia não há muita diferença, mas é uma segurança saber que aconteça o que acontecer ninguém irá te expulsar do lugar onde você batalhou para construir a sua vida.
Conversei muito com o meu marido e ambos sentimos um nó na garganta com a ironia de nos tornarmos cidadãos numa época em que imigrante neste país parece que não é bem-vindo. Mas agora teremos a oportunidade de fazer algo a respeito e não apenas testemunharmos horrorizados os acontecimentos a nossa volta.
A cerimônia durou cerca de 40 minutos. Demorou mais pra gente fazer fila pra poder entrar do que a cerimônia em si. Eu e meu marido iríamos fazer o juramento no mesmo dia mas sentamos em lugares diferentes do auditório porque eles colocam as pessoas numa ordem numérica de green card.
O meu coração partiu quando a mulher pegou o green card da minha mão e jogou numa caixinha junto com os outros green cards. Será que ela não sabe o suor e o dinheiro investido naquele pedaço de plástico?
Depois de sentados, percebi que haviam alguns brasileiros sentados na minha frente e eu toda animada disse: "Olha mais brasileiros!" e eles me olharam com uma cara de nojinho que me deixou sem jeito. Pra que isso né? Estamos todos no mesmo barco!
Veio uma pessoa falar sobre a importância de votar, outra pra explicar como pedir o passaporte, outra pra falar do social security e o presidente regional do USCIS deu uma palavra de encorajamento. Cantamos o hino nacional e eles pediram para levantar as pessoas por nacionalidades. Haviam 56 países representados no local. No final todo mundo bateu palmas e não tinha como não ficar emocionada vendo gente chorando, gritando e pulando de alegria. Fizemos o pledge of allegiance (o juramento) e fomos declarados novos cidadãos americanos. A parte irônica foi quando apareceu o vídeo do nosso presidente dando parabéns aos novos cidadãos e como os imigrantes são uma parte importante deste país... (foi engraçado que antes do vídeo começar a moça falou que íamos assistir um vídeo para permanecermos sentados que depois iríamos receber o certificado. Quando a cara do dito cujo apareceu houve um misto de risada e burburinho, mas com muito respeito todo mundo ficou em silêncio depois. Eu já sabia que iríamos ver a cara dele já que ele é o presidente do país, mas acho que pegou muita gente de surpresa).
O pessoal foi super organizado e os "diplomas" (o certificado de naturalização) foram entregues de acordo com a ordem que nós sentamos. Achei curioso que no certificado além da nossa foto existe umas informações engraçadas como altura, estado civil além do nosso nome, data de nascimento, local da cerimônia e "antiga nacionalidade" - no nosso caso podemos manter duas nacionalidades, mas em alguns países como China e Índia é preciso renunciar a cidadania anterior porque estes países não reconhecem dupla cidadania.
Com o certificado em mãos e depois de tirar algumas fotos, pedi o meu passaporte - já tinha preenchido o formulário em casa, trouxe foto e o talão de cheques porque cheque era a única forma de pagamento que eles aceitavam.
Saímos para comemorar com os tios do meu marido que vieram do Canadá especificamente para este momento e almoçamos numa ótima churrascaria brasileira :-).
Agora com o passaporte em mãos só preciso alterar o status do social security - que é como o nosso CPF aqui de residente permanente para cidadã americana, assim eu poderei trabalhar em órgãos federais sem problemas.
E assim termina o episódio da "A Imigrante". Ao contrário da Monique eu não fiz uma fogueira com todos os papéis da imigração americana, ao contrário, guardei os novos documentos com carinho no cofre e nunca mais vou olhar pra eles, mas é parte da minha história que não quero esquecer e é legal poder reler os documentos porque eles contam pedaços da sua vida.

Gostaria de deixar um obrigada bem grande para a Monique e a Aline que me ajudaram com várias dicas para estudar e me deixaram tranquila em relação ao processo e a Nani que me deu a dica valiosíssima de manter registro de todas as minhas saídas e entradas do país desde que peguei o green card, pois me salvou de uma enorme dor de cabeça ter que caçar todas as datas para calcular os dias que estive fora do país.