Despedidas e a saudade

Acho que a pior de todas e a que vai ser a primeira de muitas, é a despedida de "casa". Deixar para "trás" a vida que se conhecia, o conforto da familiaridade das coisas, da língua, da cultura. E as pessoas muito importantes da nossa vida: família e amigos.

Depois da primeira partida, a saudade vai ser moradora constante do coração. Quem disser que um dia ela some está mentindo para o mundo e para consigo mesmo. Basta ouvir uma música, sentir um cheiro, ver uma foto e ela vem à tona, às vezes trazendo uma dor ao peito muito grande. Mas ninguém morre de saudade, eu garanto a você.

Aos poucos a gente vai se acostumando, vai levando a vida e deixando a saudade de lado pra poder aproveitar o que está ao redor. Sou a favor do expatriado ter laços fortes com o país de origem e as pessoas que ficaram para trás sim, mas tem que ter limite para não ser sufocado por este laço e a ausência de coisas e pessoas tirarem a alegria de viver no novo lugar e se fincarem novas raízes.
Há tanta coisa boa para se explorar, conhecer. Se não houvessem estas coisas boas, tenho 100% de certeza de que a pessoa não teria se  tornado um expatriado.

Quem diz que expatriado não tem coração ou não é ligado a família não sabe o que diz. Deve haver casos de pessoas que fugiu do país de origem e não quer ver as pessoas de lá nem pintados de ouro, entendo as razões de cada um. Mas a marioria muda de país pelo mesmo motivo que muita gente muda de emprego, muda de relacionamentos. Quer ser feliz, quer encontrar uma oportunidade melhor.

Quem dera que a despedida fosse somente a primeira ou então aquelas que são feitas em aeroporto depois de uma visita gostosa ao país querido! Muito pelo contrário. Parece que depois que se saí de casa, a vida é uma constante despedida. Tanta gente querida e amada passa, fica um tempo especial e vai embora. Tem gente que vai embora que a gente dá graças a Deus. Tem gente que vai embora e que deixa um enorme ponto de interrogação, sem saber o motivo da partida. Tem despedidas que doem demais e outras trazem alívio para o coração. A verdade é que parece que quando se está finalmente criando novos laços afetivos, bum. Lá vem outro momento de partida...

E por favor, não me digam que o Facebook ou outras das milhares opções das redes sociais estão aí para manter contato, manter estes laços próximos, porque não é mesma coisa. Você começa a ser espectador e comentador da vida das pessoas que faziam parte da sua vida, da sua rotina. E isto é completamente diferente. Ameniza, talvez até mantenha uma conexão, mas uma vez que alguém parte da sua vida, as coisas jamais serão as mesmas.

A coisa mais esquista do mundo é perceber que alguém que dividiu sonhos e segredos com você se tornou um contato com quem você virtualmente troca apenas informações do dia-a-dia, sem muitos detalhes, sem muito sentimento, porque afinal, ninguém hoje em dia parece ter tempo para conversas mais profundas, princicpalmente conversas que acontecem através de uma tela. Isto dói, pelo menos pra mim.

Lembro de uma vez que fiquei tão cansada de despedidas que decidi que não iria fazer nenhum laço novo, assim não teria que lidar com uma eventual despedida. Mas isto não é viver, é perder conscientemente a possibilidade de momentos bons porque se tem medo. As decepções também fazem parte das armadilhas de auto-proteção, que pode minar mesmo antes de começar um bom laço de amizade. É preciso ter cautela, mas baixar a guarda também. Um dos balanços mais difíceis de encontrar.

No fundo, torço para que as despedidas fiquem menos doloridas e que a saudade não machuque tanto. Como li e estou aprendendo aos poucos, cada pessoa passa pela nossa vida é muito especial e devemos sempre nos alegrar e ser agradecidos por elas terem nos acompanhando na jornada da vida. Não importa o tempo que esta jornada tenha sido e como tenha sido interrompida. O importante é manter no coração boas memórias, sorrisos e a esperança de que de certa forma se tenha deixado algo de bom para quem partiu também.

Adeus


Não quero que você vá, fique comigo...
Segure-me um pouco mais, um pouco mais apertado.
Este momento não se repetirá novamente
Deixe-me saboreá-lo para guardá-lo comigo
E assim que você for
As coisas jamais serão as mesmas.
Meu coração dói, quero muito que você fique.
Mas eu te amo tanto, por isto deixo você ir
Mesmo com todas as incertezas da sua partida.

8 anos de EUA

Há 8 anos estava no aeroporto de Guarulhos, morrendo de ansiedade para entrar pela primeira vez em um avião. Mal sabia que aquela viagem iria mudar completamente o rumo da minha vida. Tinha 25 anos, mas o deslumbramento com as coisas e as experiências novas era de uma criança de 5 anos de idade. Incrível como o nosso olhar muda quando enxergamos as coisas pela primeira vez.
Inicialmente o plano era ficar 1 ano nos EUA, aperfeiçoar o inglês e voltar para casa. Mas aí surgiu a oportunidade de ficar mais um ano e pensei comigo, por que não? Afinal não tenho nada me prendendo lá no Brasil e me mudei para a Califórnia, o lugar que morria de medo de ir por causa de terremotos.
Mal coloquei os meus pés neste lugar e conheci o meu marido e a vontade de embora se foi, afinal, como poderia ir e deixar para trás o amor da minha vida? A decisão não foi fácil de ser tomada, mas valeu a pena.
Há quem pense que morar no exterior é um mar de maravilhas, mas não é. Tem muita coisa boa, aqui eu tenho uma vida tranquila, estabilizada. Gosto do clima daqui (apesar que uma chuva seria muito bem vinda neste momento!), das facilidades pra donas de casa,da mistura de pessoas, da oportunidade de sempre ver e conhecer algo novo. Dos muitos parques, das praias próximas, dos morros de San Francisco.
Mas a vida não é feita apenas de coisas e facilidades. A minha família não está próxima e meus amigos também não. Com o tempo você cria um mecanismo de defesa para amenizar a dor da saudade, e as pessoas vivem a vida delas sem você. Quando você deixa o seu país de origem, na maioria das vezes você deixa um pedaço de você, uma vida profissional que muitas vezes vai ficar para trás pelo menos até você se estabilizar no novo país. Muitas pessoas passam por uma crise de identidade profunda porque a situação no novo país é diferente, é preciso lidar com cultura, língua diferente e infelizmente preconceito.
Esta semana uma amiga compartilhou um vídeo do youtube sobre uma jovem imigrante espanhola que retornava para casa depois de 2 anos fora, fazendo uma surpresa para a família. O vídeo é curtinho e emocionante, mas o que mais me cortou o coração é a mensagem do final dele, que diz que as lágrimas doloridas de sua mãe pela partida da jovem é culpa daqueles que tiraram desta jovem a oportunidade de ter um bom futuro em seu próprio país. (vídeo aqui, com legenda em inglês)
Embora a curiosidade de ver o mundo tenha me feito sair do Brasil, foi a oportunidade de uma vida melhor não me deixou retornar. E como queria que as coisas fossem melhores no nosso país para que eu pudesse voltar e ter a oportunidade de ter a mesma qualidade de vida que tenho aqui, com a vantagem de poder ver a minha sobrinha crescer e meus pais envelhecerem.
É preciso ter muita coragem para deixar tudo para trás e começar tudo de novo em um lugar estranho, com pessoas, costumes, cultura e língua diferente. Tenho vontade de bater nas pessoas que dizem: "Ah, eu jamais deixaria a minha família porque sou muito ligada à eles...", como se todos os imigrantes fossem as pessoas mais desalmadas do mundo, que não estão nem aí para a família e só pensam em coisas materias e dinheiro. A vida é cheia de renúncias e às vezes é preciso fazer sacrifícios.
O importante é olhar ao redor e ver as coisas boas que existem na vida ao invés de enumerar as coisas que não se tem, trazendo assim a  infelicidade e frustração, afinal, a vida é única e muito preciosa para ser desperdiçada independente do lugar onde se mora.
Por enquanto a Califórnia é meu lar e é aqui que vou fazer de tudo para ter uma vida feliz.