Fim da novela: "A Imigrante"

Depois de 11 anos e 7 meses a minha jornada como imigrante nos EUA finalmente terminou.
No dia 26 de julho deste ano num dia ensolarado na Califórnia, eu e mais 449 pessoas nos tornamos cidadãos americanos. Foi um sentimento de alegria, alívio e incredulidade ao mesmo tempo.
Nunca imaginei quando apliquei para o meu primeiro visto dia 26 de dezembro de 2006 que este dia chegaria. Durante o juramento à bandeira passou um filme em minha cabeça de todas as raivas, lágrimas, alegrias e dinheiro que esta jornada custou. Mas valeu a pena.
Graças a Deus o processo foi simples, demos entrada no pedido da cidadania no começo de dezembro do ano passado. Não foi preciso utilizar advogado, lemos, re-lemos e tre-lemos as instruções de como preencher os formulários e já que não possuímos problemas com a justiça, filhos ou outros casamentos a documentação foi bem simples. Fizemos a coleta das digitais e fotos no começo de janeiro e em junho fizemos a entrevista.
Quando recebemos a carta marcando oficialmente a cerimônia de juramento, ficamos tão felizes. Eu chorei. Corremos para contar para as nossas famílias, mas estranhamente eles não entenderam a importância deste fato pras nossas vidas. No dia-a-dia não há muita diferença, mas é uma segurança saber que aconteça o que acontecer ninguém irá te expulsar do lugar onde você batalhou para construir a sua vida.
Conversei muito com o meu marido e ambos sentimos um nó na garganta com a ironia de nos tornarmos cidadãos numa época em que imigrante neste país parece que não é bem-vindo. Mas agora teremos a oportunidade de fazer algo a respeito e não apenas testemunharmos horrorizados os acontecimentos a nossa volta.
A cerimônia durou cerca de 40 minutos. Demorou mais pra gente fazer fila pra poder entrar do que a cerimônia em si. Eu e meu marido iríamos fazer o juramento no mesmo dia mas sentamos em lugares diferentes do auditório porque eles colocam as pessoas numa ordem numérica de green card.
O meu coração partiu quando a mulher pegou o green card da minha mão e jogou numa caixinha junto com os outros green cards. Será que ela não sabe o suor e o dinheiro investido naquele pedaço de plástico?
Depois de sentados, percebi que haviam alguns brasileiros sentados na minha frente e eu toda animada disse: "Olha mais brasileiros!" e eles me olharam com uma cara de nojinho que me deixou sem jeito. Pra que isso né? Estamos todos no mesmo barco!
Veio uma pessoa falar sobre a importância de votar, outra pra explicar como pedir o passaporte, outra pra falar do social security e o presidente regional do USCIS deu uma palavra de encorajamento. Cantamos o hino nacional e eles pediram para levantar as pessoas por nacionalidades. Haviam 56 países representados no local. No final todo mundo bateu palmas e não tinha como não ficar emocionada vendo gente chorando, gritando e pulando de alegria. Fizemos o pledge of allegiance (o juramento) e fomos declarados novos cidadãos americanos. A parte irônica foi quando apareceu o vídeo do nosso presidente dando parabéns aos novos cidadãos e como os imigrantes são uma parte importante deste país... (foi engraçado que antes do vídeo começar a moça falou que íamos assistir um vídeo para permanecermos sentados que depois iríamos receber o certificado. Quando a cara do dito cujo apareceu houve um misto de risada e burburinho, mas com muito respeito todo mundo ficou em silêncio depois. Eu já sabia que iríamos ver a cara dele já que ele é o presidente do país, mas acho que pegou muita gente de surpresa).
O pessoal foi super organizado e os "diplomas" (o certificado de naturalização) foram entregues de acordo com a ordem que nós sentamos. Achei curioso que no certificado além da nossa foto existe umas informações engraçadas como altura, estado civil além do nosso nome, data de nascimento, local da cerimônia e "antiga nacionalidade" - no nosso caso podemos manter duas nacionalidades, mas em alguns países como China e Índia é preciso renunciar a cidadania anterior porque estes países não reconhecem dupla cidadania.
Com o certificado em mãos e depois de tirar algumas fotos, pedi o meu passaporte - já tinha preenchido o formulário em casa, trouxe foto e o talão de cheques porque cheque era a única forma de pagamento que eles aceitavam.
Saímos para comemorar com os tios do meu marido que vieram do Canadá especificamente para este momento e almoçamos numa ótima churrascaria brasileira :-).
Agora com o passaporte em mãos só preciso alterar o status do social security - que é como o nosso CPF aqui de residente permanente para cidadã americana, assim eu poderei trabalhar em órgãos federais sem problemas.
E assim termina o episódio da "A Imigrante". Ao contrário da Monique eu não fiz uma fogueira com todos os papéis da imigração americana, ao contrário, guardei os novos documentos com carinho no cofre e nunca mais vou olhar pra eles, mas é parte da minha história que não quero esquecer e é legal poder reler os documentos porque eles contam pedaços da sua vida.

Gostaria de deixar um obrigada bem grande para a Monique e a Aline que me ajudaram com várias dicas para estudar e me deixaram tranquila em relação ao processo e a Nani que me deu a dica valiosíssima de manter registro de todas as minhas saídas e entradas do país desde que peguei o green card, pois me salvou de uma enorme dor de cabeça ter que caçar todas as datas para calcular os dias que estive fora do país.





9 comments:

  1. que alegria, eli!!! deve ser realmente um grande alívio, especialmente nesses tempos de ódio ao imigrante. mulher, eu jurava que seu marido era americano. olha eu moscando rs.
    seja muito feliz na terra que vc escolheu para ser seu lar!
    xx

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    1. Obrigada Paulinha! É um alívio e responsabilidade também!
      Será que eu não comentei por aqui em algum lugar? Meu marido é escocês. :-)

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  2. primeira x que venho no seu blog e já como uma noticia mega dessas parabéns para vcs...

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  3. Quero dizer que to feliz por voce e entendo o misto de emocoes, da alegria, da parte pensativa, da falta de empatia da familia e tudo que a gente lembra que passou pra chegar nesse momento. Eu considero como uma vitoria e um marco por agora ter certeza que as raizes estao fundadas e que ninguem pode tirar isso da gente.

    A sua comemoracao foi em estilo, a minha foi tentando tirar o passaporte mesmo e depois encarando o metro aqui pra ir pra casa...rsrs. Eu ri na parte que eu queimei tudo, e olha admiro quem tem carinho por esses papeis eu honestamente nao consegui...rsrs.

    Bjs

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    1. Oi Monique! Como eu falei, tirar o passaporte foi bem tranquilo porque eles foram organizados, mas quem não tivesse talão de cheques (não me conformo ainda) não ia conseguir tirar!
      Na verdade nem é carinho que tenho pelos papéis, mas sei lá, contam um pouco da nossa história, então estão lá guardados! :-).

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  4. Coisa mais chique com dois passaportes!!! Meu parabéns. Estarei aplicando em breve e vou precisar de umas diretrizes. Beijos!

    www.vivendolaforanoseua.blogspot.com

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    1. Oi Gisley, obrigada! Se precisar e eu puder ajudar, pode perguntar à vontade! Beijo!

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  5. Eeeeeee parabéns de novo! Fico tão feliz de que mais está fazs ficou para trás para vcs ❤️ Sabia que vc ia tirar mais esta de letra!

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