Geração Brasil - A real Silicon Valley

Tinha deixado de assistir novela a muito tempo ainda quando morava no Brasil.
No começo do ano assinei a Globo Internacional para ficar por dentro do que estava acontecendo no Brasil por conta do meu trabalho e aí vi a chamada da novela Geração Brasil, que teve uma parte filmada aqui na Califórnia. Achei a trama interessante e fiquei curiosa para saber como a Globo iria tratar do assunto tecnologia/Vale do Silicio/Sonho americano.
Era de se esperar que haveria muitos esteriótipos, mas acho que a novela tem sido divertida - ignorando o fato de que ninguém parece ter valores morais e vale tudo desde que seja em nome do bem - dar em cima do marido alheio, trair o parceiro para o casamento ficar melhor, mentir, enganar, dar jeitinho... enfim... dou muita risada com aquele sotaque que a Cláudia Abreu (Pamela Parker-Marra) e a Isabella Drummond (Megan Lilly) fazem, apesar de ser forçado, acho bem convincente. E aquelas dancinhas do Murilo Benicio (Jonas Marra) são as piores!rsrs

Como uma profissional de informática e pessoa que mora na Califórnia, eu gostaria de dar duas considerações a respeito de dois temas que a novela tem explorado bastante: o glamour de ser hacker e a questão do sonho em trabalhar no Vale do Silício.

A vida glamurosa dos hackers... e a vida do profissional de tecnologia

Desde a época da faculdade convivia com um grupo de pessoas que se achavam superiores a todos os outros porque eles eram hackers. Pelo menos eram como se intitulavam. Eles estavam o tempo inteiro no laboratório de informática participando de algum grupo de jogos onlines, e tentando incessantemente burlar os sistemas da faculdade para poder acessá-los assim como os programas de mensagem instantânea (msn, icq, skype).  Eles não se enturmavam muito com os outros alunos e não se interessavam muito pelas aulas, a maioria não estudava, afinal, eles não precisavam "manjavam" tudo de programação e o diploma era uma mera formalidade para conseguir um emprego decente. Nem preciso dizer que quase todos estavam sempre correndo no final do semestre para passar matéria ou repetiam. Mesmo nas matérias relacionadas com programação e lógica.
O que quero dizer é que quem é muito bom com programação e em burlar sistemas, aquelas pessoas que são hackers mesmo não fica por aí aos quatro cantos do mundo dizendo que é hacker. A pessoa não precisa disto.
E outra coisa, não é todo profissional de informática que entende de programação. Assim como há diversas especialidades na medicina, por exemplo, tecnologia é uma área muito abrangente e apesar de sermos obrigados a aprender de tudo um pouco na faculdade, no meio do curso você acaba se identificando e pendendo mais para uma área, seja porque gosta ou porque já trabalha no meio.
Eu por exemplo, adorava as aulas de programação da faculdade, mas nunca na minha vida que trabalharia como programadora porque eu não tenho saco e o meu raciocínio é muito complicado ia acabar morrendo de fome se fosse "garota de programa". Acabei seguindo a área mais técnica em hardware e redes - e trabalhei na área por muitos anos.
Existe uma grande demanda de programadores hoje em dia por conta dos aplicativos para celulares, tablets e sistemas e o assunto de segurança da informação também está na mídia por conta do grampo que os Estados Unidos colocou praticamente no mundo inteiro. Espero que esta evidência toda da novela incentive jovens talentosos a seguir a carreira de tecnologia que tem espaço para muita gente, mas que ao contrário do que se divulga por aí, não conta apenas ser bom em hackear sistemas, mas ter uma formação técnica e experiência no mercado. E aí entro no segundo ponto.

Oportunidades no Vale do Silício

É verdade que aqui é o pólo tecnológico do mundo. É no Vale do Silício que as coisas acontecem no meio da informática, eletônica e engenharia. Grandes empresas e empresas que estão começando, as famosas startups. Todo mundo quer estar aqui e participar da revolução e criação de tecnologia. Quando eu digo todo mundo, é todo mundo do mundo inteiro mesmo!
E as empresas abrem as portas para estes talentos e pessoas que estão sedentas para produzir e trazer inovações. O problema é conseguir entrar nestas empresas, porque infelizmente ser muito bom não é suficiente para conseguir um emprego por aqui.
A concorrência é muito grande entre os profissionais de informática. E apesar de não ser algo tão óbvio, há sim um certo Q.I. (quem indica) para entrar e ganhar certas posições. Algumas vagas são apenas divulgadas internamente ou então através das agências de recrutamento que são usadas demais por aqui! Uma outra ferramenta muito utilizada para vagas é o site Linkedin. Funciona mesmo, eu já fui chamada para 2 entrevistas por recrutadores que olharam o meu perfil e achararam que eu encaixava na vaga oferecida.
O maior problema de todos para se conseguir um emprego aqui no Vale ainda é o visto. Sei que muita gente não acredita em mim e acha que assim como a anta da personagem Maya, é só chegar aqui no primeiro avião com visto de turista - ou qualquer outro visto pra entrar legalmente no país - mostrar o seu maravilhoso currículo e a empresa vai cair de amores por você e vai te patrocinar o visto de trabalho. Não funciona assim. O processo de visto de trabalho é burocrático e caro e acreditem ou não são apenas disponíveis 65 mil vistos de trabalho da categoria H1B por ano, mas se houverem muitos pedidos, eles podem aumentar mais 20 mil vistos disponíveis.. As petições começam geralmente em abril e só para se ter uma idéia, no ano passado em junho já não havia mais vistos disponíveis. Então os interessados tinham que esperar até abril deste ano para tentar novamente um visto. Quem quiser mais informações sobre o H1B há mais informações AQUI no próprio site da imigração.
Ninguém - nem as pessoas interessadas em conseguir emprego e nem os empregadores são felizes com este número limite de visto de trabalho. É muito comum na mídia aqui aparecer de vez em quando reportagens sobre reclamações das empresas que já até estão estudando em criar um cruzeiro-moradia onde pessoas poderiam trabalhar para empresas no Vale do Silício sem visto de trabalho - o navio estaria ancorado em águas internacionais. Acha loucura mesmo? É verdade está AQUI a reportgem sobre o assunto.
Claro que existem outras possibilidades como a transferência dentro de filiais da empresa que não se encaixam na categoria H1B e se o profissional ocupa um alto cargo, há uma outra categoria de visto também mas o H1B é o visto de trabalho mais comum e portanto o mais concorrido.
Não quero desencorajar ninguém a buscar uma carreira de sucesso aqui, mas acho importante estar preparado com informação e sobre a realidade antes de se fazer um investimento para chegar aqui e dar com a cara na porta. A melhor fonte de informação é sempre o site da imigração e se você quiser explorar outras opções há muitos advogados especializados em assunto imigratórios que podem ser facilmente localizados pelo bom e velho Google :-).

Apesar de tudo o que escrevi aí em cima, o Vale ainda é composto por muita gente que nunca terminou a faculdade ( Steve Jobs, Mark Zuckerberg, etc, etc...), cheia de talento mas eles são as exceções e não regra de sucesso. Sempre digo para as pessoas que mentes brilhantes sempre estão em demanda e há sempre um jeito, um caminho. Profissionais qualificados e experientes são disputadíssimos a tapas por aqui, portanto não desista do seu objetivo, mas prepare-se para os obstáculos a ser enfrentados.

4 comments:

  1. Engraçado que muitas pessoas que me conhecem dizem que eu levo jeito pra área de tecnologia, informática, coisas assim, mas eu não acho que eu tenho paciência não. Não gosto de ficar pendurada no computador a não ser na frente do Word escrevendo kkkkk, mas acredito que onde vc mora, amiga, é sonho de milhares e milhares de brasileiros da área.

    K!

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    1. É sonho de qualquer pessoa que trabalhe com tecnologia! Aqui a gente vê as coisas acontecendo, é bem legal mas também é um ambiente extremamente competitivo e estressante!

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  2. Muito interessante seu post. Eu nunca assisti essa novela, nem sabia que tinha a ver com o Vale do Silício e que alguns personagens até tinham sotaque, rs. Essa do número contado de vistos eu já tinha ouvido falar. Como você disse, muito ruim pra quem procura emprego e pra quem oferece emprego :(

    beijos!

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    1. Os personagens são americanos então eles falam português com sotaque, é bem engraçado.
      Quanto ao número de vistos, eu entendo que tem que haver um certo limite por causa de controle e sempre tem a velha discussão de que imigrantes estão roubando empregos dos americanos, mas as empresas recrutam estes profissionais e passam por toda a burocracia e custo justamente porque não encontram pessoas qualificadas aqui mesmo. É um assunto complicado...

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