A tão temida ligação

Estava preparando o jantar quando o telefone tocou e vi na tela do celular o nome do meu cunhado.

O coração já gelou porque eles estavam viajando para o Rio de Janeiro e já sabia que algo de ruim tinha acontecido. Assim que falei alô ele disse pra eu ligar pra casa da minha mãe porque o meu primo ligou pra ele e disse que a minha mãe havia desmaiado e não estavam conseguindo acordá-la. Minhas pernas neste momento não conseguiram segurar o meu corpo e caí sentada no chão, desligando rapidamente pra ligar pra casa e saber o que estava acontecendo.

Meu pai atendeu o telefone da minha mãe e falou que ela estava desacordada e que a ambulância já estava à caminho. Foi bem na hora que o SAMU chegou e eu implorei pra ele não desligar o telefone, deixasse somente na mesa pra eu escutar o que estava acontecendo. EStava um caos na casa, várias pessoas e eu conseguia ouvir a minha irmã mais nova dando informações do que aconteceu e de saúde e medicamentos da minha mãe. De repente ouvi a minha irmã gritando "A minha mãe não, a minha mãe não." e ela veio pegar o telefone e disse pra eu pelo amor de Deus pegar o primeiro avião e ir pra casa. Meu pai então pegou o telefone e disse que os paramédicos haviam confirmado o óbito. 

Eu escutava mas não estava acreditando no que estava ouvindo e continuei pedindo pro meu pai deixar eu falar com a minha mãe e ele repetia, não dá pra falar com ela, ela faleceu. Foi tudo tão rápido tão surreal e eu tinha que ligar pra minha irmã que estava no Rio de Janeiro pra dar notícia. Liguei pro meu cunhado e consegui ouvir a minha outra irmã chorando e pedi pra ele retornar pra São Paulo o mais rápido possível, porque minha irmã mais nova estava sozinha pra resolver tudo sozinha.

Foi sem dúvida alguma o pior momento da minha vida. Uma dor que eu jamais senti, um vazio que nenhum grito ou lágrima conseguia tirar de dentro de mim. Havia zero possibilidade de eu ir para o Brasil, primeiro por conta do tempo de viagem e lógico a bosta da COVID. Daqui não havia muito o que eu podia fazer, só dar apoio para a minha irmã mais nova que acabou organizando tudo sozinha enquanto a minha irmã mais velha retornava à São Paulo. 

No dia seguinte à conselho de uma amiga que mora em New York, liguei para a funerária e organizei o envio de flores que a minha mãe sempre gostou. Era a única coisa que poderia fazer naquele momento além de chorar e tentar compreender que tudo o que estava vivendo não era um enorme pesadelo e sim a realidade. A realidade que a gente sabe que um dia vai chegar, mas que nunca estamos preparados.

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Escrevi e reescrevi este post um milhão de vezes e percebi que ainda é muito, mas muito difícil colocar em palavras o que aconteceu, o que senti e o que ainda estou sentindo. O mundo não parou de girar, mesmo que pra mim o tempo parou com a chegada daquela ligação em janeiro. Vou vivendo um dia de cada vez, uns dias menos piores que os outros, mas o vazio e a dor continua no meu coração. É muito difícil para as pessoas que nunca passaram por uma perda tão grande entender a dimensão do impacto que isso causa na vida. E na sequência da imensa perda da minha mãe vieram outras perdas e decepções, que apesar de serem imensamente menores, faz tudo muito mais difícil.

To levando um dia de cada vez. E é o que eu posso fazer no momento.




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